O coleccionador é também, por inerência, um provador. Mas nem todos os provadores são coleccionadores. A razão é simples. O provador é basicamente um agenciador do gosto. O que requer alguma profundidade, discernimento, espessura. O objectivo último é a criação de uma dinâmica relacional, apesar da subjectividade dos seus enunciados. O coleccionador, pelo contrário, só quer mostrar, exibir, demonstrar ser o mais conhecedor, o mais original, o mais prolífico. O coleccionador é o profeta de si próprio, o anunciador da boa nova do seu ego. Que surge obsessivamente artilhado com doses sôfregas de informação, para espantar os incréus. O coleccionador não sabe ou não quer saber que prega no deserto. O coleccionador quer resolver a sua ferida narcísica através do cibermundo. A sua fixação anal - utilizando linguagem psicanalítica - degenerou numa compulsão para provar ao pai ou à mãe simbólicos que "fez os deveres de casa", que está à altura do que exigiram dele, ou do que ele esperava que exigissem. O coleccionador é um esteta falhado, um repetidor insaciável, um moço de recados do espectáculo. À força de querer ser original, acaba por reproduzir clichés de originais como ele. O seu saber enciclopédico nunca transpõe os títulos, o sound byte, nunca vai mais além, nunca transmite ideias próprias, comprometedoras, sinceras. O coleccionador nunca toma partido. Se o faz, é por mera renúncia, ou porque isso o envolve num elan que pode ser cobrado mais tarde. Portanto, o coleccionador está pouco interessado em fixar padrões, por muito fugazes que eles sejam. A sua preocupação principal é a busca alucinada da admiração embasbacada, da notoriedade postiça.
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