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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tábua de marés (4)

“A Festa”
Criação colectiva, a partir de texto de Filipe H. Fonseca, Nelson Guerreiro e Tiago Rodrigues. Interpretação: Cátia Pinheiro, Cláudia Gaiolas, Joaquim Horta, Marcello Urgeghe, Rita Blanco, Tiago Rodrigues e Tónan Quito
Produção: Mundo Perfeito e Teatro Maria Matos
Grande Auditório do TMG, 20 de Setembro de 2008, às 21h30

O espectáculo faz parte do “Festival de Teatro Acto Seguinte”, que decorre nos meses de Setembro e Outubro, no TMG. É a primeira produção – em regime de work in progress – originada a partir do projecto “Estúdios”. Neste caso, um conjunto de três workshops orientados por vários criadores, entre os quais João Canijo e o coreógrafo zairense Faustin Linyekula, a cuja notável criação “The dialog series: iii. dinozard" pude assistir no último “Alkantara Festival”. O projecto resulta de uma colaboração entre a estrutura teatral “Mundo Perfeito” e o Teatro Maria Matos, com a participação do “Nature Theatre of Oklahoma”. A propósito da metodologia usada nas sessões, diz-se na apresentação que “a equipa artística deste espectáculo explorou diversos processos de trabalho e desenvolveu vários fragmentos de uma obra teatral dedicada ao tema da festa”. Precisamente, a festa é um conceito essencial, um cenário utilizado pela dramaturgia ao longo dos tempos. Será que actualmente poderá ainda o teatro celebrar a festa? E que tipo de festa? Tudo depende da quantidade e da razão de ser da areia nos mexilhões. Passo a explicar. Em cena estão sete convivas no que se supõe ser um réveillon. Após um jantar que se crê pacífico, uma observação acerca da existência de areia nas amêijoas despoleta uma espiral de agressão e meias verdades, cujo desfecho se torna imprevisível. Progressivamente, os vários personagens vão-se desconstruindo, revelando traços de personalidade desconcertantes. Em vez da aguardada festa, instala-se o sarcasmo, o abandono das convenções, a perturbação por aquilo que não se diz e por aquilo que se diz mas não se julgava importante. Nem o álcool consegue amenizar o autismo que se instala. Tudo termina numa espécie de coreografia, onde cada um já só consegue repetir-se a si próprio. Um encontro verdadeiro como este passa por várias metamorfoses. Algumas de uma crueldade suprema. Recorde-se o notável filme homónimo de Thomas Vintenberg.

Publicado no jornal "O Interior", em 16.10.2008

2 comentários:

  1. Seu blog é tri legal, por isso proponho que nos visite para ampliar nosso leque de indignação.Que tal se a gente se linkasse
    www.saitica.blogspot.com

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  2. O seu blogue também me agradou muito. É como assistir a um documentário fotográfico sobre a história recente do Brasil, bastando fazer scroll com o rato. É claro que irá para os favoritos. Saudações.

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