O coleccionador, essa figura ímpar da blogosfera, continua a exibir a sua sumptuosa ignorância, mascarada atrás de uma profusão de referências inesgotável. Será que ele ouviu, viu ou leu tudo aquilo que, assevera, pode alterar a existência de quem o faz? Não acredito. Até porque, ao contrário do coleccionador, quem realmente reflecte sobre o mundo em que vive, acaba por se deter na espessura dos objectos de cultura que consome. E usa-os como meios de transformação efectiva. E percebe que a sua única utilidade é uma fermentação sincera, poderosa da acção. O coleccionador, é bom não esquecer, não se detém em torno de uma resposta que não encontrou. Que ideia! Pelo contrário, para prevenir o embaraço, promove uma dúvida à certeza seguinte, continua e sistematicamente, numa voragem imparável. A diarreia de coleccionador é ilimitada. A cultura é o seu laxante: imagens atrás de imagens, coelhos a saírem sem parar da cartola, clips do you tube às resmas, discografias impensáveis... "As coisas que ele vai buscar!", soletram, com a boca escancarada, as costureirinhas e os gremlins da cultura. "O gajo deve ser mesmo culto!", proclamam os néscios urbi et orbi. Sem nunca suspeitarem, uns e outros, que o preclaro brilhantismo não passa de uma estratégia de instalação para um ego insuflado até à demência. Uma espécie de compulsão em afirmar ad nauseum que a sua pila é maior do que todas as outras do ginásio. O coleccionador é o copista dos tempos modernos. Só ele conhece, guardada às sete chaves, a côncava funda da sua efectiva e mesquinha ignorância do mundo. Só ele?
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