O projecto da Câmara de Santa Comba-Dão em construir um Museu dedicado a Salazar e um Centro de Estudos do Estado Novo, na sua antiga casa, está de novo na ordem do dia. Recentemente, foi entregue na AR um abaixo-assinado opondo-se à sua construção, pela mão da jurássica União de Resistentes Anti-Fascistas (URAP). Sobre o assunto, já aqui disse o que pensava. Leia-se também o que escreveu JPP sobre esta matéria, com particular incidência no que poderá ou não albergar a memória histórica num espaço museológico ideologicamente aberto. Quero aqui somente destacar as declarações do promotor da petição prestadas à comunicação social. O homem parecia um mestre-escola, agitando uma galeria de fantasmas de outros tempos, apelos de vigilância "às forças da reacção", entre outras delícias, capazes de o entronizar como um autêntico museu vivo. Sem sequer suspeitar que a sua intolerância é exactamente igual àquela que ostraciza.
Como exemplo de como outros povos convivem com a sua memória, dou o seguinte exemplo: durante a adolescência, passei largas temporadas na Bélgica. Num dos muitos passeios que fiz pelo país, visitei o forte de Bredonk, nos arredores de Antuérpia. Tratava-se de um antigo campo de concentração nazi, que fora transformado num local aberto ao público. O que incluia um centro de documentação e um vasto sector do edifício, restaurado e com informação quanto baste. Recordo-me da existência de um painel sonoro junto às celas, onde, em três línguas, se podiam escutar relatos de alguns dos seus antigos ocupantes. E do número considerável de visitantes. Mas sobretudo do silêncio, que evidenciava um respeito profundo, mas nunca solene. E da ausência de qualquer sinal de aproveitamento, de qualquer explicação, que não a evidência da barbárie.
Esse grupo de "resistentes" é um case study...
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