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segunda-feira, 12 de março de 2007

Há festa na aldeia

A Câmara de Santa Comba-Dão pretende construir um Museu dedicado a Salazar e um Centro de Estudos do Estado Novo, na sua antiga casa, no Vimieiro. Segundo a autarquia, serão necessários cinco milhões de euros para a sua concretização. Parte do espólio já foi doado pelos herdeiros. É claro que o Estado deveria intervir, para sossegar as consciências, apoiando financeira e cientificamente este projecto. E salvaguardando o interesse puramente histórico e documental da iniciativa, através de critérios de qualidade rigorosos. Ficaria assim afastada qualquer tentativa de promover um local de romaria para saudosos do passado. E afirmava-se um país que olha de forma descomplexada, mas atenta e informada, para a sua memória, mesmo a mais incómoda. Outras nações da Europa, com um passado recente bem mais traumático, já o fizeram.
Mas há quem assim não entenda. Um ruidoso grupo de vociferantes fautores da União de Resistentes Anti-Fascistas (URAP) quiseram protestar contra a construção do Museu. O que provocou uma contra-manifestação de jovens e habitantes locais que gritavam vivas a Salazar. Confesso que já há muito tempo que não via episódio mais patético. De um lado, os "Anti-Fascistas", decerto uma sucursal para desocupados do PCP, esse exemplo de defesa da liberdade que, como se sabe, já tentou instalar uma ditadura do proletariado em Portugal, por alturas do PREC. Como só lhes resta insurgirem-se contra símbolos, vai de alugar uns autocarros, agitar umas bandeiras e, em nome de uma liberdade que realmente temem, e de uma intolerável superioridade moral que ninguém lhes atribuiu, querem impedir a liberdade de quem não pensa como eles. Os contra-manifestantes, por outro lado, também não ficaram bem na fotografia. Limitaram-se a reagir, de forma territorial, perante aquilo que tomaram como provocação de forasteiros que não gostam do "desenvolvimento" da povoação. Uma lamentável sucessão de tiques pindéricos e sumamente apropriados para a abertura dos telejornais. Ver aqui a notícia completa.

3 comentários:

  1. Será que querem apagar meio século de história, só para dourar a lenda da resistência?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. É inadmissível esta pressão ruidosa de grupos excursionistas como o que refiro no post, e que, em nome de uma resistência divinizada, querem impedir o conhecimento de uma realidade que, quer se queira quer não, marcou o país durante meio século. A construção de de mitos e de fantasmas não resolvidos parece ser uma das nossas características mais atávicas. E decerto inconciliável com a modernidade e a democracia plena.

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