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terça-feira, 8 de maio de 2007

As cidades perdidas - 2

A verdadeira essência de Anastásia não se encontra na descrição da cidade. A sua descrição é como a imagem do corpo de uma mulher para o adolescente: desperta pequenos desejos logo sufocados pela mão ruinosa sobre uma torre de carne incendiada e vista de longe. (Cristóvão Rilke sabia que a morte encontrada no assalto à torre de nada valeria sem as pétalas em seu peito). Quem pelo contrário está em Anastásia (quem é aquele «homem»: Marco Polo? Italo Calvino?) não possui fantasmas lúbricos, está nela como quem entra numa mulher, como quem desce à terra, ou como quem mergulha na Substância espinosista: «A cidade parece-nos como um todo em que nenhum desejo se perde e de que nós fazemos parte, e como ela goza tudo de que nós não gozamos, só nos resta habitar este desejo e satisfazer-nos com ele». Porém, fazermos parte do todo tem esta consequência: «julgamos gozar por toda a Anastásia enquanto afinal não passamos de seus escravos».

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