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domingo, 22 de outubro de 2006

Dogville

Ao que tudo indica, o blogue "Guarda Mal" acabou os seus dias. Muitos guardenses, nos quais me incluo - e não só - tinham-se habituado a reconhecer neste espaço uma lufada de ar fresco no quietismo acrítico que domina a vida da cidade. Um autêntico serviço público. Num exercício atento e informado, o blogue foi dando a conhecer aos cidadãos aquilo de que uma imprensa local geralmente domesticada e medíocre não fala. Nas pequenas cidades como esta, existe frequentemente um pacto social invisível, que vai preservando a mentira até onde pode. Mais: dá azo a que essa mentira paire como um manto regulador, como a única estratégia de sobrevivência, como um dogma, como uma regra a que não se pode fugir. Esta espécie de suave omertá tem efeitos devastadores para o verdadeiro crescimento da cidade.
A medida da importância do blogue pôde ser medida pelo tipo e intensidade das reacções adversas que desencadeou e que acompanhei: de casta, corporativas, de feudos, etc. Comum a todas elas, o ódio à existência de um verdadeiro espaço público, um fórum transparente, um denominador mínimo comum e tendencialmente neutro onde as questões respeitantes à urbe se discutam com clareza e com coragem. No fundo, o ódio à tal inscrição de que falava José Gil, em "Portugal, o medo de existir".
Por ele passaram em revista questões incómodas como a mediocridade generalizada e a falta de qualidade do ensino no IPG, as tentações populistas da "classe" política local, a ineficiência e amadorismo do NAC, o completo desnorte e incompetência da actual direcção camarária em matérias como o investimento público, a captação do investimento privado, de modo a fazer frente aos baixíssimos níveis de ocupação da economia local, a ausência de uma estratégia turística e de imagem para a cidade, a debilidade política do actual presidente, subalternizado às agendas políticas dos seus congéneres de Viseu e da Covilhã, o patético site da CMG, a inacreditável exposição das T shirts de Alves Ambrósio, a fulminante elevação de Luís Filipe Reis a símbolo da cidade, a insólita endogamia ao nível dos funcionários da Câmara, etc.
Pela minha parte, embora pontualmente em desacordo com algumas análises, e admitindo a existência de uma hidden agenda por detrás, insisto que foi com todo o mérito que o blogue se tornou uma referência no débil espaço público da cidade. Cuja efemeridade se lamenta, embora se compreenda.

9 comentários:

  1. Seria interessante saber por que acabou... Por vontade do seu autor? Por pressões insustentáveis ao mesmo? Seja como for, creio que faz falta ao exercício da cidadania uma voz incómoda como a do Guarda Mal.

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  2. Caro anónimo:
    A questão da motivação do autor,seja onde se manifesta essa autoria, é para mim, em regra, uma questão, não digamos secundária, mas irrelevante. É que, por definição, o autor é aquele que, dispondo do poder de dar a vida, pode também determinar a morte daquilo que cria.
    Neste caso particular, para quem acompanhou o blogue, decerto se recorda de um post onde o/a autor/a, num tom quase confessional, enumera as dificuldades em manter uma situação ambígua, insustentável sob vários pontos de vista. Esta posição nada tinha a ver com "pressões", mas procedia de compreensíveis razões éticas. Como tal, tão imperscrutáveis quanto a identidade do/a autor/a. Era pois muito fácil adivinhar que se tratava da crónica de uma morte anunciada. E assim foi. Sobre o assunto, pouco mais haverá a dizer.

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  3. ó Gil, continua a dar forte e feio na parolada...

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  4. O autor do Guarda Mal parece ser o segredo mais bem/mal guardado da cidade. Onde não vivo, mas onde nasci. Por isso, visitar o blogue, tal como este, já se tinha tornado uma rotina. Como se se tratasse uma testemunha incómoda de uma telenovela já vista noutros sítios.Pelos vistos, a Guarda não só não evoluiu como, em alguns aspectos, está pior do que há 30 anos, quando de lá saí.É pena.

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  5. Deve andar muita gente contentinha com o fim do Guarda Mal. Outros suspiram de alívio...Enfim, espero que o teu se mantenha na linha do que nos vem habituando.

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  6. Infelizmente algumas situações "supostamente" denunciadas no blog foram desvirtuadas...mas a verdade ficará na consciência dos que a conhecem...
    A ética não se justifica por esta, ou aquela razão, a ética revela-se no pensamento, na palavra e na conduta.

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  7. a procissão ainda vai no adro, como diz o povo.

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  8. O anónimo o dia 29 podia aproveitar para denunciar as situações desvirtuadas pelo Guarda Mal. Faça-o. Nós agradecemos!

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  9. tanta asneira se diz aqui na terrinha

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