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segunda-feira, 2 de outubro de 2006

A biblioteca de Tamegroute

Os livros são ainda os testemunhos por excelência da memória. Correspondem a uma das poucas características universais, comuns a qualquer cultura: a necessidade de registar os sonhos, os pensamentos, as fantasias. Borges relatou numa das suas obras que o mesmo Imperador que mandou construir a Grande Muralha da China foi o mesmo que mandou destruir todos os livros existentes no Império. Como se, por causa disso, o tempo começasse a correr de novo e a memória se apagasse.
Ora, o encontro, o verdadeiro encontro de civilizações começa por pequenas coisas. Algumas irrisórias. A biblioteca de Tamegroute podia ser um exemplo. Tamegroute é uma pequena aldeia marroquina no sopé do Atlas, rodeada de jardins e de uma terra cor de argila. Mas é sobretudo o local de uma das mais prestigiadas zaouïas de toda a África do Norte.
Fazendo parte do mesmo edifício onde funciona uma confraria religiosa e um centro de estudos teológicos, a biblioteca encerra tesouros imemoriais. Foi fundada por Mohamed Abu Nasr no séc. XVII, a partir de obras adquiridas ao longo das suas várias peregrinações a Meca. Cada uma das suas viagens transformou-se num périplo de vários anos: Egipto, Etiópia, Arábia, Iraque, Síria, Pérsia…
O acervo contempla desde manuscritos com nove séculos, tratados científicos, obras religiosas da idade do ouro do Al Andaluz, exemplares do Corão gravados a ouro, sendo o mais antigo do séc. XIII, iluminuras em pele de gazela e, sobretudo, uma tradução de Pitágoras para árabe, com 600 anos, numa época em que esta ainda era a língua das ciências. Em Tamegroute, os autores persas e gregos repousam em paz. E foi graças às traduções árabes que o seu saber foi transferido para o Ocidente, via Andaluzia, como se sabe. Filosofia, mística, direito e história do mundo muçulmano estão igualmente presentes em abundantes compilações.

3 comentários:

  1. Em resposta ao teu apelo no Bar Velho, aqui faço referência que nenhum dos escritores pertence à Tertulia Libertas, mas que conheço vários tertulianos. Inclusivamente, uma grande amiga minha foi Dux da Tertulia. Qualquer coisa, contacta para alexguerreiro@netcabo.pt

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  2. Gil,

    bonito texto que já me faz lembrar o que aprendi contigo, quando achava que o mal vinha todo da falsidade mediterrânea. Como muitas vezes aconteceu, és um homem da Providência se bem que isso te faça sofrer muitas vezes e muito tempo. Pode até não ser teu mérito mas é por seres Poeta...

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  3. Dá mesmo vontade lá ir coscuvilhar... :)

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