Na semana passada registei-me no site do jornal "Sol", ao qual está associado um blogue pessoal. Que poderá ser acedido aqui. Anteontem coloquei lá o post sobre o Outono já aqui publicado. Apareceu então um comentário assinado por uma actriz de telenovela - pelo que me foi dado a entender - afirmando que, "de poetas consensuais já estava farta". Referia-se à inclusão do excerto de um poema de Eugénio de Andrade e, implicitamente, ao de Teixeira de Pascoaes.
O enunciado é curioso e revelador. Hoje em dia, sobretudo na blogosfera, quando se pretende argumentar, não se pega numa ideia, ou numa simples projecção subjectiva e, do lugar onde ela nos transporta, se devolve essa ou outra impressão para um lugar neutro. Não! Pega-se num soundbyte, que muitas vezes é um simples referente, uma citação que envolve o propósito do texto, para lhe acentuar o sabor e o contexto. Depois, é só disparar uma boutade, e já está! Assim fez aquela comentadora. Por outro lado, o que são poetas consensuais? Antes de mais, ser apelidado de consensual é concerteza o pior pesadelo que qualquer poeta deverá ter. Ora, acredito que só os verdadeiros poetas inscrevem no mundo um enigma insolúvel e uma inexplicável coerência. Que, sem eles, seria uma casa desabitada e sombriamente consensual.
Por outro lado, supondo-se que o consenso apontado se refere a uma aceitação generalizada e inquestionável da qualidade da obra, será isso, só por si, critério para a julgar? Repare-se que a comentadora poderia ter dito: "lamento, mas não gosto da obra desses autores", por qualquer razão intrínseca à própria obra. Mas não, ela qualificou-a de acordo com a sua aceitação. Esta perversão argumentativa em que toma parte, pode ser definida como a afirmação do consequente. Isto é, uma falácia em que se ignoram outras causas a partir da ocorrência de um efeito. A fórmula seria: P, então Q; Q; então, P. Exemplo: "se estiver a chover (P), o correio atrasa-se (Q). O correio atrasou-se (Q), entaõ está a chover (P). Ou então, estaremos em presença de uma negação imprópria, onde se confunde a causa e o efeito, trocando-os.
Seja como fôr, é bom não esquecer que, embora uma obra poética possa ser consensual, um poeta jamais o será. A comprová-lo, bastaria visitar a casa-museu de Teixeira de Pascoaes, em Amarante, incursão para a qual desde já convido a comentadora. Garantindo que uma manhã em locais como esse é substancialmente mais inspirador do que qualquer telenovela. Mas as telenovelas não são, afinal, o paradigma do consenso, do mainstream?
O enunciado é curioso e revelador. Hoje em dia, sobretudo na blogosfera, quando se pretende argumentar, não se pega numa ideia, ou numa simples projecção subjectiva e, do lugar onde ela nos transporta, se devolve essa ou outra impressão para um lugar neutro. Não! Pega-se num soundbyte, que muitas vezes é um simples referente, uma citação que envolve o propósito do texto, para lhe acentuar o sabor e o contexto. Depois, é só disparar uma boutade, e já está! Assim fez aquela comentadora. Por outro lado, o que são poetas consensuais? Antes de mais, ser apelidado de consensual é concerteza o pior pesadelo que qualquer poeta deverá ter. Ora, acredito que só os verdadeiros poetas inscrevem no mundo um enigma insolúvel e uma inexplicável coerência. Que, sem eles, seria uma casa desabitada e sombriamente consensual.
Por outro lado, supondo-se que o consenso apontado se refere a uma aceitação generalizada e inquestionável da qualidade da obra, será isso, só por si, critério para a julgar? Repare-se que a comentadora poderia ter dito: "lamento, mas não gosto da obra desses autores", por qualquer razão intrínseca à própria obra. Mas não, ela qualificou-a de acordo com a sua aceitação. Esta perversão argumentativa em que toma parte, pode ser definida como a afirmação do consequente. Isto é, uma falácia em que se ignoram outras causas a partir da ocorrência de um efeito. A fórmula seria: P, então Q; Q; então, P. Exemplo: "se estiver a chover (P), o correio atrasa-se (Q). O correio atrasou-se (Q), entaõ está a chover (P). Ou então, estaremos em presença de uma negação imprópria, onde se confunde a causa e o efeito, trocando-os.
Seja como fôr, é bom não esquecer que, embora uma obra poética possa ser consensual, um poeta jamais o será. A comprová-lo, bastaria visitar a casa-museu de Teixeira de Pascoaes, em Amarante, incursão para a qual desde já convido a comentadora. Garantindo que uma manhã em locais como esse é substancialmente mais inspirador do que qualquer telenovela. Mas as telenovelas não são, afinal, o paradigma do consenso, do mainstream?
Boa resposta, gil.
ResponderEliminarA gaja deve ser da geração x-pod.
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