Após meados de Junho, é quase uma fatalidade: anseio sempre pelo regresso do Outono. O Verão com "seus potros fulvos", como escreveu Eugénio de Andrade, é para mim um período descolorido, pleno de uma agitação inconsequente. Mas com os primeiros alvores do Outono, é a matéria e o espírito que se envolvem numa dança impensável, e um despertar luminoso começa a envolver a memória. A natureza recolhe-se, mas esse espaço é preenchido pelo tempo, fazendo-nos saber o que ainda espera por nós. O resto é conhecido: a infindável paleta de cores, os aromas que pairam no ar, a luz que se vai despedindo com um secreto pudor, as castanhas e as nozes que se apanham ao final da tarde. E sobretudo o vento já agreste, que nos recorda a fundamental efemeridade da vida. Como dizia Teixeira de Pascoaes, não sei se a pensar nesta época, "quando a folha cai, a alma sobe".
Publicado no jornal "O Interior"
Bons magustos...
ResponderEliminarPerfeito. Embora goste mais da primavera.
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