Deixo aos comentadores e politólogos os balanços destes últimos cinco anos de globalização do medo. A propósito de qualquer fundamentalismo, mas pensando sobretudo no islâmico e na escalada do terror associada, transcrevo as palavras absolutamente apropriadas de Arno Gruen, autor já aqui referido:
Quando as mudanças sociais e económicas destroem concepções valorativas antigas e, por si só, contribuem para a penúria e o empobrecimento generalizado, o ódio acumulado tem de se descarregar. E se, então, aqueles que estão libertos de empecilhos morais interiores, concedem a permissão para destruir e conquistar em nome de uma missão sagrada, os últimos resquícios de contradição interior entre o amor e o ódio são sacudidos. Com isso, o Homem renuncia ao seu Eu próprio; permite a fusão deste com um inebriante sentimento de vingança que se disfarça com o próprio amor.(...)
Essa foi uma das realidades de que o fascismo se aproveitou. Dirigiu-se directamente ao desejo de vingança do Homem e apresentou-o, sem contradição anterior, como sagrado. O que outorga o poder a todos os líderes não é tanto o facto deles nos prometerem uma vida melhor como, sobretudo, o de nos libertarem da luta interior, da contradição entre o amor e o ódio. Fornecem-nos inimigos para matarmos e ainda nos amarmos por isso.
Se as pessoas se alhearem da sua cultura, porque esta já não lhes permite definirem o seu Eu "oficialmente", a "completude" pessoal passa a poder mostrar-se apenas quando se manifesta aquilo de que esse Eu transborda: o ódio. Então como hoje, os seus líderes nunca por nunca se referem à razão primeira de um novo sentimento de identidade - nem à raiva assassina que daí decorre. Todavia, nem as vítimas da sua raiva destruidora nem a sujeição a novos opressores resolveram a sua situação. A procura é cega porque o que se procura é o caminho por onde escapar ao Eu verdadeiro. A fuga à ocupação com as causas do mal-estar e às dores que isso acarreta implica causar dores a outros.
Quando as mudanças sociais e económicas destroem concepções valorativas antigas e, por si só, contribuem para a penúria e o empobrecimento generalizado, o ódio acumulado tem de se descarregar. E se, então, aqueles que estão libertos de empecilhos morais interiores, concedem a permissão para destruir e conquistar em nome de uma missão sagrada, os últimos resquícios de contradição interior entre o amor e o ódio são sacudidos. Com isso, o Homem renuncia ao seu Eu próprio; permite a fusão deste com um inebriante sentimento de vingança que se disfarça com o próprio amor.(...)
Essa foi uma das realidades de que o fascismo se aproveitou. Dirigiu-se directamente ao desejo de vingança do Homem e apresentou-o, sem contradição anterior, como sagrado. O que outorga o poder a todos os líderes não é tanto o facto deles nos prometerem uma vida melhor como, sobretudo, o de nos libertarem da luta interior, da contradição entre o amor e o ódio. Fornecem-nos inimigos para matarmos e ainda nos amarmos por isso.
Se as pessoas se alhearem da sua cultura, porque esta já não lhes permite definirem o seu Eu "oficialmente", a "completude" pessoal passa a poder mostrar-se apenas quando se manifesta aquilo de que esse Eu transborda: o ódio. Então como hoje, os seus líderes nunca por nunca se referem à razão primeira de um novo sentimento de identidade - nem à raiva assassina que daí decorre. Todavia, nem as vítimas da sua raiva destruidora nem a sujeição a novos opressores resolveram a sua situação. A procura é cega porque o que se procura é o caminho por onde escapar ao Eu verdadeiro. A fuga à ocupação com as causas do mal-estar e às dores que isso acarreta implica causar dores a outros.
Falsos Ídolos, 1997, Paz Editora, pg. 34
O que me assusta são os fundamentalistas que não sabem que o são. Estão fascinados pela própria cegueira. Devoram a nossa vontade. Preferem esquecer que tudo é mortal. São mortais as ideias, as verdades científicas, é mortal a terra, até o universo é mortal.
ResponderEliminarCaro/a Anónimo/a:
ResponderEliminarCom esses ainda posso eu bem. Agora com aquela rapaziada dos salamaleques cujo hobby preferido é o ódio é que há que ter cuidado.
O anónimo refere-se a quem ou a quem, exactamente?
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