Desde há uns meses largos que me rendi incondicionalmente perante as crónicas de um senhor chamado António Sousa Homem. Foi neste post que tudo começou. Recentemente - a 9 de Setembro - saiu mais uma crónica na Revista Notícias Sábado e, como todas, aqui publicada. É dificílimo permanecer indiferente a este caudal proustiano, circulando pelas deambulações de Sterne. ASH convida-nos a caminhar pela horta (a tal horta do Cândido de Voltaire), participar em surpreendentes narrativas coligidas pela memória, à luz de um sereno e irónico epicurismo. A sua voz emerge sempre do texto, densifica-o como um milagre que nos torna cúmplices, fazendo-nos mergulhar no poço do tempo, numa viagem partilhada, jamais imposta. Sem que percamos de vista a sua genealogia e os aromas e cores do Moledo. Momentos de felicidade pura.
No referido texto, que convido os leitores a percorrer, pode ler-se: Ser velho é uma ocupação sincera; nada nos pode enganar, em nada podemos enganar os outros – vê-se pelo corpo. O Doutor Homem, meu pai, considerou que a travessia dos seus anos derradeiros devia fazer-se com a mesma velocidade a que viveu: moderada, mas a vários tempos. (...) A verdade é que nos habituamos a quase tudo. Questão de sobrevivência, como se sabe: com o tempo, e as suas ameaças, resta-nos aceitar a ordem das coisas, e a ordem das coisas manda que aceitemos a velhice como uma condição. Há uma ideia muito comum hoje em dia, certamente alimentada por muita má-fé e uma certa nostalgia da imortalidade, segundo a qual se deve perseguir o ideal da “eterna juventude”. Não é uma ideia generosa,(...) mas o princípio de que se deve promover a juventude é próprio de quem não reconhece a força do destino ou de quem se quer substituir a ele. (...) Muitas vezes penso que esse mundo, ao qual pertencem os velhos como eu, o mundo de há trinta, quarenta ou cinquenta anos, é uma vaga inutilidade rodeada de fantasmas que, mesmo sendo fantasmas, vão morrendo aos poucos. Mas reconhecer isso seria perder a única coisa que nos resta, a todos nós: o contentamento de saber que as coisas não ficam por aqui. (edit meu)
No referido texto, que convido os leitores a percorrer, pode ler-se: Ser velho é uma ocupação sincera; nada nos pode enganar, em nada podemos enganar os outros – vê-se pelo corpo. O Doutor Homem, meu pai, considerou que a travessia dos seus anos derradeiros devia fazer-se com a mesma velocidade a que viveu: moderada, mas a vários tempos. (...) A verdade é que nos habituamos a quase tudo. Questão de sobrevivência, como se sabe: com o tempo, e as suas ameaças, resta-nos aceitar a ordem das coisas, e a ordem das coisas manda que aceitemos a velhice como uma condição. Há uma ideia muito comum hoje em dia, certamente alimentada por muita má-fé e uma certa nostalgia da imortalidade, segundo a qual se deve perseguir o ideal da “eterna juventude”. Não é uma ideia generosa,(...) mas o princípio de que se deve promover a juventude é próprio de quem não reconhece a força do destino ou de quem se quer substituir a ele. (...) Muitas vezes penso que esse mundo, ao qual pertencem os velhos como eu, o mundo de há trinta, quarenta ou cinquenta anos, é uma vaga inutilidade rodeada de fantasmas que, mesmo sendo fantasmas, vão morrendo aos poucos. Mas reconhecer isso seria perder a única coisa que nos resta, a todos nós: o contentamento de saber que as coisas não ficam por aqui. (edit meu)
Também eu pensei que assim fosse... e vai-se a ver é um pseudónimo de Francisco José Viegas!
ResponderEliminarCaro anónimo
ResponderEliminarTomara ele algum dia escrever assim...
Cara selbaige,
ResponderEliminarInvestigue...
O texto é espectacular. è isso que interessa
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