Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Elogio da velhice

Desde há uns meses largos que me rendi incondicionalmente perante as crónicas de um senhor chamado António Sousa Homem. Foi neste post que tudo começou. Recentemente - a 9 de Setembro - saiu mais uma crónica na Revista Notícias Sábado e, como todas, aqui publicada. É dificílimo permanecer indiferente a este caudal proustiano, circulando pelas deambulações de Sterne. ASH convida-nos a caminhar pela horta (a tal horta do Cândido de Voltaire), participar em surpreendentes narrativas coligidas pela memória, à luz de um sereno e irónico epicurismo. A sua voz emerge sempre do texto, densifica-o como um milagre que nos torna cúmplices, fazendo-nos mergulhar no poço do tempo, numa viagem partilhada, jamais imposta. Sem que percamos de vista a sua genealogia e os aromas e cores do Moledo. Momentos de felicidade pura.
No referido texto, que convido os leitores a percorrer, pode ler-se: Ser velho é uma ocupação sincera; nada nos pode enganar, em nada podemos enganar os outros – vê-se pelo corpo. O Doutor Homem, meu pai, considerou que a travessia dos seus anos derradeiros devia fazer-se com a mesma velocidade a que viveu: moderada, mas a vários tempos. (...) A verdade é que nos habituamos a quase tudo. Questão de sobrevivência, como se sabe: com o tempo, e as suas ameaças, resta-nos aceitar a ordem das coisas, e a ordem das coisas manda que aceitemos a velhice como uma condição. Há uma ideia muito comum hoje em dia, certamente alimentada por muita má-fé e uma certa nostalgia da imortalidade, segundo a qual se deve perseguir o ideal da “eterna juventude”. Não é uma ideia generosa,(...) mas o princípio de que se deve promover a juventude é próprio de quem não reconhece a força do destino ou de quem se quer substituir a ele. (...) Muitas vezes penso que esse mundo, ao qual pertencem os velhos como eu, o mundo de há trinta, quarenta ou cinquenta anos, é uma vaga inutilidade rodeada de fantasmas que, mesmo sendo fantasmas, vão morrendo aos poucos. Mas reconhecer isso seria perder a única coisa que nos resta, a todos nós: o contentamento de saber que as coisas não ficam por aqui. (edit meu)

4 comentários:

  1. Também eu pensei que assim fosse... e vai-se a ver é um pseudónimo de Francisco José Viegas!

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  2. Caro anónimo
    Tomara ele algum dia escrever assim...

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  3. Cara selbaige,
    Investigue...

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  4. O texto é espectacular. è isso que interessa

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