Um lugar com um pequeno inferno. Onde digo sempre é preciso despedir-me é preciso uma terra feroz e sumptuosa. Uma noite enorme com palavras antigas para atravessar lentamente: sede, barco, sombra, ternura, música, sonho, pátria, árvore, azul, vinho, terra, ardor, fruto, lábios, criança, fogo, chave, deserto, água, barro, mundo, amante, quimera, corrida, fantasia, sono, peito, destino, branco, deus, tempo, loucura, montanha, infância, êxtase, viagem, magia, mulher, pássaro, verão, embriaguêz, nuvem, tu, mãos, passos, violino, inverno, melancolia, além, casa, outro, passagem, morte, belo, lago, guerreiro, libélula, beijo, ilha, eco, cabelo, orvalho aqui, noite, quente, nós, corpo, outono, poema ainda. É preciso despedir-me de tudo o que não encontrei nos limites da música, herdeira da inocência que cheirei numa tarde que nunca existiu para além dela. Onde sempre chegarei, mesmo agora que tudo esqueci, menos o mistério. Um mistério tremendo que me sussurra uma tenebrosa cumplicidade para um crime perfeito. Noites e dias para sacudir a mágoa que teima em inaugurar todos os caminhos que começam. Que sobe devagar pelas coisas. Que entra silenciosamente no meu sangue. É certo que existem muitos caminhos para a sede. Secretos todos. Uns límpidos como uma epopeia, outros errantes como um seixo. Mas o que fazer quando o único alimento é o desespero, uma ânsia desmesurada de errar pelos velhos caminhos, até encontrar o lugar, a casa acesa por dentro? Onde a terrível violência de uma esperança me dirija as mãos e os olhos? Para que eu seja finalmente absorvido pelo enigma, pelo movimento esmagador da inocência. Mesmo que, à volta, ainda os estilhaços de uma devastação sem nome. Sem rosto. Sem fim.
Ver anterior
Ver anterior
O texto anterior tinha asas? Foi por isso que voou?
ResponderEliminarSó queria dizer-lhe que era muito belo.