Fui a essa repartição uma e outra vez para tratar dos terrenos que o meu avô me deixou. Havia sempre mais um rendilhado da infindável trama requerimental que me era exigido. Foi então que comecei a dormir mal. Tinha pesadelos violentos. A simpatia forçada e a condescendência que era forçado a exibir estavam a esgotar as minhas forças, a esgotar o tutano da minha dignidade. A pior situação era quando me davam a entender que a "licençazinha" estava encaminhada e depois voltava tudo atrás. O movimento era circular e aparentemente eterno. Tão agradecido estava a esta linearidade ocupacional que a demonstrei ao chefe da repartição. Numa brumosa tarde de Inverno, após ter esperado que saísse do serviço, fui ter com ele. Mantendo o sorriso, encostei-lhe a lâmina ao pescoço e fi-lo engolir, um por um, todos os papeis que ainda restavam do que me tinham obrigado a preencher para o "bom andamento do assunto". Ao terceiro, deixou de espernear. Pelo silêncio que se seguiu, não era difícil adivinhar que o pedido fora finalmente deferido.
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É sempre bom saber que se cometeu mais um crime por estas bandas. Boa continuação.
ResponderEliminarHá dias em que já me apeteceu fazer o mesmo...
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