Quando se refere a existência de populismos na cultura, colocam-se imediatamente algumas questões prévias, cuja ausência de esclarecimento dificilmente permitirá ir-se mais longe.
Em primeiro lugar, partindo do princípio de que vivemos na sociedade do espectáculo e usando a terminologia de Guy Debord, dir-se-á que o populismo apresenta caractrísticas radicalmente diferentes, consoante o espectáculo fôr concentrado ou difuso. No primeiro caso, refere-se a sociedades fortemente hierarquizadas, onde o mercado é ainda incipiente, ou a regimes autoritários ou totalitários, caso em que a fabricação de uma identidade e de uma estética próprias determina uma concentração de meios e uma visibilidade propagandeada dos resultados sem paralelo. Por outro lado, o espectáculo difuso é próprio das actuais sociedades democráticas onde predomina a economia de mercado. Paradoxalmente, é aí que um pensamento hegemónico e uma formatação da actividade criadora e da fruição da cultura têm melhores condições para triunfar.
Em segundo lugar, há populismos à esquerda e à direita. A forma como se encara a actividade cultural, a identidade e o património tem menos a ver com posicionamentos ideológicos do que com a própria estruturação da personalidade de quem intervem decisivamente neste campo. Se é valorizada a empatia e a defesa da vitalidade interior, a pluralidade efectiva ao nível da produção e oferta ficarão assegurados. Se o poder for ocupado enquanto forma de domínio e o aproveitamento da desresponsabilização de vastas maiorias pelos poderes públicos fôr a tónica, então seguramente o populismo levará dianteira.
Por último, refira-se que há casos de políticas culturais equilibradas e audazes em autarquias por parte de representantes afectos a forças que cobrem todo o espectro político. Assim como o contrário. Ora, em termos de oferta cultural, uma entidade pública tem responsabilidades diversas de uma empresa privada, nomeadamente assegurar a pluralidade e a diversidade. É aí que muitas vezes as câmaras pecam. Quando organizam eventos de massas, não entendo que estejam a manifestar uma determinada preferência ao nível do gosto, mas a promover a sua dissolução, ocupando o seu lugar preocupações exclusivamente eleitoralistas. É a popularidade dos conteúdos que interessa, domesticando-se a vitalidade própria da arte e assegurando o ciclo completo de uma lealdade renovada e estável, à margem de qualquer integração no interior anímico.
Em primeiro lugar, partindo do princípio de que vivemos na sociedade do espectáculo e usando a terminologia de Guy Debord, dir-se-á que o populismo apresenta caractrísticas radicalmente diferentes, consoante o espectáculo fôr concentrado ou difuso. No primeiro caso, refere-se a sociedades fortemente hierarquizadas, onde o mercado é ainda incipiente, ou a regimes autoritários ou totalitários, caso em que a fabricação de uma identidade e de uma estética próprias determina uma concentração de meios e uma visibilidade propagandeada dos resultados sem paralelo. Por outro lado, o espectáculo difuso é próprio das actuais sociedades democráticas onde predomina a economia de mercado. Paradoxalmente, é aí que um pensamento hegemónico e uma formatação da actividade criadora e da fruição da cultura têm melhores condições para triunfar.
Em segundo lugar, há populismos à esquerda e à direita. A forma como se encara a actividade cultural, a identidade e o património tem menos a ver com posicionamentos ideológicos do que com a própria estruturação da personalidade de quem intervem decisivamente neste campo. Se é valorizada a empatia e a defesa da vitalidade interior, a pluralidade efectiva ao nível da produção e oferta ficarão assegurados. Se o poder for ocupado enquanto forma de domínio e o aproveitamento da desresponsabilização de vastas maiorias pelos poderes públicos fôr a tónica, então seguramente o populismo levará dianteira.
Por último, refira-se que há casos de políticas culturais equilibradas e audazes em autarquias por parte de representantes afectos a forças que cobrem todo o espectro político. Assim como o contrário. Ora, em termos de oferta cultural, uma entidade pública tem responsabilidades diversas de uma empresa privada, nomeadamente assegurar a pluralidade e a diversidade. É aí que muitas vezes as câmaras pecam. Quando organizam eventos de massas, não entendo que estejam a manifestar uma determinada preferência ao nível do gosto, mas a promover a sua dissolução, ocupando o seu lugar preocupações exclusivamente eleitoralistas. É a popularidade dos conteúdos que interessa, domesticando-se a vitalidade própria da arte e assegurando o ciclo completo de uma lealdade renovada e estável, à margem de qualquer integração no interior anímico.
Publicado no jornal "O Interior"
Basicamente subscrevo. Mas a actuação das entidades públicas não se esgota, antes pelo contrário, nas autarquias. Então e a Administração central, os intitutos públicos?
ResponderEliminarFinalmente vejo alguém a falar nos situacionistas.
ResponderEliminara diferença é que o pão e circenses dos romanos era feito com classe...
ResponderEliminaranónimo das 16:31:
ResponderEliminartem razão no que afirma. ficará para outro post.