Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Nocturno em que nada se ouve

No meio de um silêncio deserto como uma rua antes do
crime,
sem sequer respirar para que nada perturbe a minha morte
nesta solidão sem paredes
deixo a minha estátua de terra limpa,
aventuro-me na lentidão da chuva
numa descida interminável,
sem braços que alcançar,
sem dedos para inventar a escala que sai de um piano
invisível,
sem outra coisa que um olhar e uma voz
que esqueceram de que olhos e lábios partiram.

o que são lábios?
o que é um olhar?

a minha voz já não me pertence:
dentro da água que escapa
dentro do ar que me foge
dentro do lívido fogo que corta como um grito.

e no jogo errante de um espelho frente a outro
cai a minha voz,
a minha voz que cresce
a minha voz que queima
dentro de um bosque de gelo:

aqui
deste lado
o barulho do mar onde tudo esqueci
onde ninguém me sabe.

in Labirintos

Sem comentários:

Enviar um comentário