Diariamente, é difundida, a partir da RDP-Centro, a rubrica "Centro Cultural", apresentada pelo inefável Sansão Coelho. Trata-se de uma versão minimalista e radiofónica do saudoso "Acontece", onde são divulgadas as realizações culturais na região Centro. Mas entre a intenção e o resultado a distância é abissal. Para já, fica-se sempre com a ideia que quase tudo acontece em Coimbra. O resto é paisagem. Por exemplo, quem não dispusesse de outras fontes, pensaria que aqui na Guarda nada se passaria em termos culturais.
Depois, a locução do mítico Coelho resulta num meio termo entre a célebre caricatura do Herman do repórter da rádio e um apresentador de uma casa de fados para turistas. O homem só não declama um poema logo ali, em louvor do Penedo da Saudade ou do Choupal, porque o tempo é escasso. O fraseado rebuscado, tipicamente coimbrão, não engana ninguém.
Mas o que é pior, ao ouvir este programa, fica-se com a sensação de que a cultura serve exclusivamente para passar os "tempos livres". Que a cultura do evento é rainha, revelando-se como uma melíflua e prosélita epifania, na voz anasalada de Sansão pós-desbaste capilar. Como uma conveniência apaziaguadora das fundamentais diferenças, das tensões éticas. Como o carrocel da indiferenciação acrítica. Tudo o resto, a cultura como fermento de novos modelos de vida, de diferentes percepções do mundo, fica de fora da canónica agenda. Em nome, claro está, das louvaveis iniciativas para matar os "tempos livres". Não vá o diabo tecê-las.
Depois, a locução do mítico Coelho resulta num meio termo entre a célebre caricatura do Herman do repórter da rádio e um apresentador de uma casa de fados para turistas. O homem só não declama um poema logo ali, em louvor do Penedo da Saudade ou do Choupal, porque o tempo é escasso. O fraseado rebuscado, tipicamente coimbrão, não engana ninguém.
Mas o que é pior, ao ouvir este programa, fica-se com a sensação de que a cultura serve exclusivamente para passar os "tempos livres". Que a cultura do evento é rainha, revelando-se como uma melíflua e prosélita epifania, na voz anasalada de Sansão pós-desbaste capilar. Como uma conveniência apaziaguadora das fundamentais diferenças, das tensões éticas. Como o carrocel da indiferenciação acrítica. Tudo o resto, a cultura como fermento de novos modelos de vida, de diferentes percepções do mundo, fica de fora da canónica agenda. Em nome, claro está, das louvaveis iniciativas para matar os "tempos livres". Não vá o diabo tecê-las.
Publicado no jornal "O Interior"
Cara mafalda:
ResponderEliminarO comportamento denunciado integra uma clara violação do código da publicidade e do contrato de serviço de público da RDP. Neste caso, basta cumprir a lei.