como era difícil chamar os mistérios,
os inumeráveis obscuros lugares
sair dos campos gelados e
tocar de perto a palpitação
dos lábios demorando-se no fogo:
era o uivo dos cães
confundindo-nos com a própria noite
eram nomes puros
nomes duros
nomes cúmplices
revelando transparente refúgios abertos.
vieram então as primeiras chuvas,
longínquas as notícias da neve
- esse imenso cortejo das aves
buscando o chão da terra.
erguido como um arco de fogo
num canto da memória
ficou porém um retrato:
da moldura pendem ainda
os lugares matinais onde
as vozes se procuram,
o aroma das algas,
uns sapatos para os caminhos
que ninguém percorre,
mais além as vestes de um anjo
ardendo na berma do asfalto...
é fácil pois a contagem dos dias,
esse exíguo espaço
entre dois rastos de um sonho
ou duas libélulas sacudindo o orvalho
eis como surge
num relance
a fase das águas:
para o rio continuarei a atirar pedras.
por necessidade.
in "Labirintos"
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