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segunda-feira, 26 de junho de 2006

Crimes exemplares - 4

Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta quanto eu...

Quando finalmente acordou, só viu escuro à sua volta. Bateu, bateu, nada. Mas era estranho: os ruídos quase imperceptíveis que vinham do outro lado eram-lhe familiares. Conseguiu distinguir o relógio de cuco, a campainha da porta, o telefone a tocar, a 4ª sinfonia de Mahler que o Zé Tó tanto gostava, enquanto na mesa de trabalho dava os retoque finais no seu último projecto. Nos últimos tempos, falava entusiasticamente sobre o que ele chamava "arquitectura viva". Bateu com mais força. Começou a gritar por socorro, num pânico descontrolado. Mas as espessas paredes de betão não cediam nem um milímetro. Ao fim de algumas horas, esgotada, deixou-se cair na estreita faixa de solo, que, reparou então, não media mais de meio metro. Um pavor indizível começou a tomar conta dela, toldando-lhe os pensamentos. Ao mesmo tempo, um torpor desconhecido invadia-lhe o corpo, à medida que o oxigénio ia escasseando. Imagens soltas sucediam-se no seu cérebro, a uma velocidade vertiginosa. Até que uma espécie de véu de luz se abateu sobre ela, lentamente...

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