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terça-feira, 30 de agosto de 2011

A fronteira

Há duas fases bem distintas na existência do comum dos mortais. Na primeira, crê-se que as regras são constrangimentos que oprimem. Na segunda, sabe-se, de ciência certa, que elas existem para nos libertar. Refiro-me, naturalmente, às regras enquanto padrões culturais, mais do que normas legisladas. Sendo que, aquelas cuja convicção de obrigatoriedade é mais poderosa, resultam de uma sageza e de uma rotina de polimento negociada através dos tempos. De modo a que, na maior parte das vezes, surjam em contextos com funções e sentidos bastante diferenciados. Percebi também que, perante a evidência, só há duas atitudes possíveis:
1. A sua deposição não concertada, num dado momento, a que se segue a correspondente substituição por uma "nova ordem" redentora. Pelo menos, para as vanguardas esclarecidas, é claro. Como se a narrativa da História que sustenta tal praxis se resumisse a uma longa marcha até ao seu fim, ao fim da História.
2. Ou, então, perceber que essas regras tem elas próprias uma marca genética, a que se poderia chamar caducidade latente. Actuar sobre as regras significaria uma de duas coisas: apressar-lhe o prazo de validade ou, sendo possível, validá-las enquanto forma para uma situação política e social distinta. Mudança que, sendo impossível sem a subsistência da muitas dessas regras, nunca aconteceria a partir delas.
Escusado será dizer que, no primeiro estádio referido, encontramos o marxismo, o fascismo e seus derivados e subprodutos. Trata-se de uma fase embrionária da acção política. Na segunda fase estão os que, como eu, não ignoram que a liberdade é uma filigrana que requer o cuidado de muitas gerações. Precisamente porque esse trabalho, humilde e verdadeiramente audacioso, poderá nunca ficar concluído.

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