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sábado, 20 de novembro de 2010

A pastelaria (2)

A reportagem que hoje passou na SIC no jornal da tarde é emblemática. Como pano de fundo, os pouquíssimos manifestantes anti cimeira NATO, reunidos em volta da estátua do Marquês de Pombal. Com muitas bandeiras vermelhas para "encher" o olho e devidamente pastoreados pelos "camaradas responsáveis", ali destacados para a "acção". Em primeiro plano, a entrevista do porta voz dessas "massas". Tratava-se de um antiquíssimo "jovem", com aquele visual algures entre o realismo socialista, um fantasma acabado de sair da Sierra Maestra e a ressaca de uma Festa  do Avante. Estão a ver o género? E que, em vez de perdigotos, lançava no ar os "amplos" sectores ali "representados": organizações  de "jovens", "mulheres", muitos "trabalhadores", é claro. Protestando, "democraticamente", contra a presença da NATO, essa organização "criminosa", que teve o desplante de garantir 65 anos de paz na Europa!... Questionado se era uma manifestação de esquerda, negou, avançando para a faixa 2: qualquer coisa como "que ideia!  Como podem ver, para além da amplitude da representação, esta é aberta a todos os que...", etc. Mais à frente, foi-lhe perguntado se a acção de "protesto" era apoiada por partidos políticos e quais. Embora relutante, lá os nomeou. Pois bem, dou um rebuçado se adivinharem. Pronto, estava difícil! Vão-me obrigar a dizer, seus malandrotes: o PCP e os satélites de sempre. E também, ora deixa cá ver, o partido Humanista! O BE era claramente um intruso tolerado, como se adivinharia pela indumentária pouco sofisticada do personagem, pela notória escassez vocabular e, sobretudo, pela ideia que fez passar de que "algumas forças se colaram", sem contudo as nomear.
Sobra uma conclusão e um desabafo. Primeiro, a conclusão: o mundo virou quase 180º nos últimos 25 anos. Os messianismos foram chumbados irremediavelmente pela realidade. As justificações para a estupidez são cada vez menos toleradas. O comunismo tornou-se uma obsolescência histórica. Só uma coisa permaneceu: os métodos desta gente. Agora o desabafo: apesar de tudo, prefiro mil vezes os manifestantes performativos. Pois esses, ao menos, revelam alguma compreensão do que implica a contemporaneidade.

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