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terça-feira, 16 de março de 2010

O Partido do senhor Silva e do tio Alberto (1)

Por iniciativa do eterno Santana Lopes, o país assistiu durante o passado fim de semana a mais um Congresso do PSD. A magna reunião decorreu, como é sabido, em Mafra. Mais precisamente no Pavilhão Eng. Ministro dos Santos, presidente da autarquia local desde, salvo erro, o período Cretáceo. O qual, fazendo jus à profícua tradição inaugurada pelo comendador Vieira de Carvalho na Maia, baptiza equipamentos pagos com dinheiros públicos com o seu cristianíssimo nome. Vá, caros amigos, nada de poses de virgens ofendidas... "Afinal", pensará o Ministro engenheiro, "se eu não me homenagear a mim próprio, quem o fará?". E no seguimento, "olhem, quem nunca quis construir um calhau (nome que é dado na gíria militar local ao Convento, e que dificilmente esquecerei, graças aos 4 penosos meses de instrução e muita lama na Tapada), nem que seja no Lego, que atire a primeira pedra!!!". Justíssimas lucubrações, direis, e com toda a razão! Toda uma teia argumentativa de peso... Que ilustra uma síntese perfeita entre o epicurismo puro e duro e a literatura de auto-ajuda! Mormente as prolixas edições do guru Osho, diria eu... Adiante. Do convénio propriamente dito, algumas notas:
- Tirando o bónus extra de campanha oferecido aos dois candidatos underscore (Aguiar Branco declaradamente e Rangel cada vez menos), o Congresso pouco ou nada trouxe à clarificação da vida interna e à definição de uma linha política consistente pelo PSD;
- Passos Coelho surpreendeu-me pela positiva. Sobretudo porque insistiu em fazer passar um discurso sustentável para o país, conseguindo assim marcar a agenda política para o exterior. E também porque não quis alinhar no patético beija-mão a Jardim. Por outro lado, num lance de contra-fogo, quis cortar pela base as críticas pessoais mais recorrentes que lhe são atiradas. Demonstrou pois ter a lição bem estudada;
- Rangel optou pela tonitruância tribunícia, percebendo que nada melhor entusiasma e une o povo do PSD do que a emergência do poder e a proclamação do seu exercício. Mas pouco ou nada de substancial se lhe ouviu. Mormente em relação ao PEC. Eis um exemplo feliz da aplicação da linguagem binária espera/esperança ao debate político. Com isso, garantiu aliados, fez vacilar muitos indecisos e trouxe para si alguns neófitos. Mas chegará?

- Aguiar Branco, em circunstâncias normais e num partido sem sindicatos de voto nem lógicas clientelares, demonstrou que seria o melhor candidato dos três;
- Marcelo, como seria previsível, passeou o seu proverbial brilhantismo. Dessa forma condicionando a própria agenda eleitoral dos candidatos, nomeadamente quanto ao apoio à reeleição de Cavaco. Graças ao seu discurso, confirmou uma vez mais ter um sentido de oportunidade único no que à análise, avaliação e antecipação do jogo político diz respeito. Todavia, percebeu-se que esgotou aqui a sua derradeira oportunidade para a acção. Para além de assegurar um lugar cativo como valido/conselheiro do próximo líder, seja ele quem for. Talvez Marcelo não tenha percebido, para seu prejuízo, que o pavor de errar é menos desculpável do que o erro propriamente dito. Ou então, se percebeu, esqueceu-se que um Code Civil, por muito brilhante e revolucionário que seja, de pouco vale se não tiver um Napoleão a outorgá-lo.
(continua)

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