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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Céline (1)



Tinha que ser. Depois do aperitivo e das entradas, o prato principal. A sopa virá no fim. A edição é da Ulisseia (1983) com tradução superlativa de Aníbal Fernandes (a utilização do termo "caracolando" tirou-me do sério). Pelos vistos, Céline não me larga. Os homens realmente livres são o único exemplo que é preciso levar a sério. Ainda recordo como a primeira leitura da "Viagem ao fim da noite" me deixou meio zômbico durante uns tempos. Por acção do petardo corruptor. Ou seja, por obra e graça da missão principal da literatura: corromper. A releitura que agora decorre tem ainda "isso", mas já tem "outra coisa". Recordo o que escrevi há tempos sobre o leitor errante:
"O livro é, não obstante as limitações da memória, como um quadro: no momento em que se acaba a leitura, tem paisagens, vales, dobras sombrias, cor, corografia. Dos seus picos (cobertos com a neve dos sublinhados) os pobres espremem citações, os sábios erigem torres académicas e os vagabundos visionam panoramas de intensidade, medo e fascínio. Há também um ambiente, nos livros. Uma luz do lugar. Um sopro. Às vezes um odor, único, que atravessa o país desvelado pela primeira leitura. No fim do livro é que começo a ler. Na revisita é que apreendo esse espírito que une leitor e escritor na mesma aflição. A aflição que impele à escrita e à leitura, conclui o leitor errante. Num instante está ali tudo. Tudo, mas nada ainda é conhecido. É aqui que se deve começar a ler."
Depois farei aqui as contas finais, é claro.

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