Lendo alguns blogues locais e ouvindo algumas opiniões, parece que o exercício da crítica na Guarda se tornou um pecado, digamos, venial. Exigindo-se, implicitamente, uma consensualidade e uma auto-complacência que, normalmente, conduzem ao umbiguismo e ao definhamento adiado. A palavra "parece", que atrás utilizei, não foi por acaso. Claro que ninguém se coíbe de comentar episódios da vida pública. E nem é esse facto que está aqui em causa. O problema está a montante: na desinformação por vezes veiculada pela comunicação social local; na descontinuidade entre a opinião que se tem em privado daquela que, sendo o caso, se tem publicamente (isto porque não existe na Guarda um espaço público plural e esclarecido digno desse nome, prevalecendo a não inscrição de que falava José Gil); a tendência a pessoalizar o debate, onde isso não é de todo aconselhável. Houve uma verdadeira causa em que participei, nos anos da juventude na Guarda, ao lado de muitos outros: a afirmação da modernidade na cidade. Pelos vistos, duas décadas depois, o programa da altura continua a fazer sentido. Podia dar muitos exemplos, mas vou-me cingir a um, por sinal emblemático: o TMG. Na esmagadora maioria das cidades deste país, a existência de uma estrutura daquela qualidade e com uma oferta cultural da envergadura que se sabe, seria motivo de orgulho para todos. Mesmo discordando-se dos padrões dessa oferta. Pois o bom senso e algum brio levariam a concluir que, sem um TMG, a cidade ficaria muito mais pobre e, se calhar, muito mais triste. Na Guarda, infelizmente, não foi isso que sucedeu. Embora dotada de um objecto cosmopolita que a projecta, uma parte dela encara-o com desconfiança. Em parte, graças a uma minoria "qualificada", que o ataca não por razões plausíveis, i.e., discordâncias face ao modelo de programação ou determinado espectáculo, mas como argumento ao serviço da luta política, da concorrência empresarial, ou de simples interesses difusos e agendas pessoais. Ou seja, para alguns cidadãos, sejam eles anónimos ou figuras da vida pública, o TMG ainda não foi internalizado como património da cidade, estabelecendo-se à sua volta um módico de consensualidade e reconhecimento. Outros exemplos poderiam ser dados, como já referi. E todos eles conduziriam ao mesmo diagnóstico. Todavia, existem diferenças entre a forma como o obscurantismo e o ódio à moderninade se estrincheiravam na altura e agora. Se antes o clericalismo e o caciquismo eram alvos certos e cristalinos, agora oa agentes do subdesenvolvimento podem ser encontrados em qualquer lugar. Nuns mais do que noutros, é certo. Só que agora sobrevivem de /e alimentam os pequenos poderes, em lugares-chave, as clientelas renovadas, os sibilinos jogos de influências, as redes de branqueamento e de impunidade. Ou seja, antes actuavam como polícias da moral e agora como agentes de uma administração, de uma economia e de um mérito paralelos. Portanto, nesse acerto da cidade com a contemporaneidade, é caso para dizer: "a luta continua"...
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