Não podia estar mais de acordo com o André, quando conclui que "o assunto mais importante de um Estado não é a Liberdade. É a Vida e a Morte." Nem vale a pena repetir as razões. No entanto, presumo que fala de um Estado de direito democrático, pois para os outros a liberdade nem sequer é assunto. Em rigor, mesmo para aqueles, a liberdade também não é um tema ou uma área de governação, mas a base fundadora, a razão de ser do contrato que os erigiu. Mesmo assim, a Liberdade é aqui encarada enquanto garantia, enquanto pressuposto intangível. Todavia, a sua plenitude exige que, mais do que um conceito formal, seja encarada como um desafio absoluto, intrínseco à própria existência. Ou seja, em princípio, os cidadãos que integram um estado democrático são livres. Mas quantos são libertos? Quantos renegaram a quinquilharia trendy, a vaidade, a avidez, o culto da imagem, o compromisso, a ânsia de poder? Quantos perceberam que a liberdade não serve só para que não nos atrapalhem a vidinha, mas para sermos outra coisa que nos ultrapassa e acolhe sem perguntas? Muito poucos, caros amigos. Até hoje, orgulho-me de ter conhecido alguns: desde alguns vagabundos que havia na Guarda, a alguns clochard que conheci em Lisboa, passando por um alemão desgrenhado, que vi ao longe, numa praia do litoral alentejano, acompanhado de um cavalo e um cão. E com quem conversei por improvisar um jantar, em cima da areia, enquanto o cavalo se escarregou de deglutir, à sucapa, umas peras que tinha acabado de comprar. Circulava de terra em terra, trabalhando nisto e naquilo. No dia seguinte ia ajudar a carregar umas caixas de pescado no próximo porto. Não tinha medo de nada (cumprindo, sem o saber, o anseio de Étienne la Boétie, no "Discurso da Servidão Voluntária: "n'ayez pas peur"). A não ser, talvez, de perder as noites estreladas.
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