Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Tábua de marés (34)

“Passos Perdidos”
José Teixeira
Exposição patente na Galeria de Arte do TMG
De 17 de Janeiro a 8 de Março

Só para quem não sabe: José Teixeira licenciou-se em Escultura e realizou o Mestrado em Teorias da Arte na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Local onde lecciona, actualmente, a cadeira de Artes Plásticas. Como escultor expõe regularmente desde 1980, dedicando-se à medalhística a partir de 1995, disciplina onde tem vindo a ser consagrado internacionalmente. Já viveu e estudou na Guarda.
Até agora, da obra do autor só conhecia algumas esculturas, a sua intervenção no Café concerto do TMG, há dois anos, a colaboração gráfica para a revista “Boca de Incêndio” e parte das suas medalhas. Portanto, a minha expectativa em relação a esta mostra era elevada. Todavia, antes da apreciação do evento, é fundamental lançar uma advertência: esta não é uma avaliação especializada nem deverá ser entendida como tal. É uma apreciação crítica, sim, mas ancorada na sensibilidade e no despojamento possíveis de quem a expressa.
Ora, a meu ver, esta exposição enferma de um problema de concepção e de organização do espaço. O que significa isto? A mostra é constituída por quatro blocos distintos: desenhos, esculturas, instalação e uma tapeçaria instalada numa plataforma, reproduzindo um labirinto. Os primeiros estão expostos ao longo da sala. As segundas aparecem à entrada da sala principal, a maioria das quais à esquerda. Com excepção do conjunto “Passagem a” e Passagem z” encostado a cada um dos lados da parede do hall. A instalação está na sala do fundo. Por último, a tapeçaria encontra-se ao fundo da sala grande, encostada à direita. Percorrido o espaço, é notória a descontinuidade entre os vários módulos. Não se trata, claro está, do seu mérito intrínseco, mas do modo como se relacionam, do desequilíbrio criado entre as várias linguagens, da ocupação excessiva do espaço. Portanto, com este acervo, em vez de uma, justificavam-se duas intervenções: a) uma instalação composta por dois módulos distintos, em espaços contíguos, mas individualizados, num a tecelagem e no outro, mantendo-se a instalação “The road to nowhere”; b) uma outra, constituída pelas obras pictóricas e escultóricas. Porquê? Para responder, para além das razões expostas, incluiria mais duas: 1) por um lado, a tapeçaria, pelo seu magnetismo, pela sua completude e pela capacidade evidenciada em criar perspectivas ilusórias, ganharia muito em “respirar” plenamente, sem nada à volta que a perturbasse. De modo que cada um a pudesse percorrer ainda antes de a pisar. Ou ser enganado pelo seu desenho. Ou atraído pelo seu mistério, como se nele repousasse a “forma do seu destino”, nas palavras de Borges, citadas na folha de sala; 2) por outro lado, a densidade e a verticalidade das esculturas aconselharia a uma visibilidade plena, sem objectos estranhos e sem constrangimentos. Portanto, esta exposição parece-me ser um exemplo claro onde a evidente qualidade das obras apresentadas ficou prejudicada pela sua organização e disposição. Aparte este “pormenor”, esta exposição de José Teixeira constitui um grande acontecimento artístico na cidade.

Publicado no jornal "O Interior", em 5 de Março

Sem comentários:

Enviar um comentário