Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Tábua de marés (33)


Honeyboy Hickling (http://www.honeyboyhickling.com/)
Com Bob Wilson, Tony Baylis e Tony Stuart

Pequeno Auditório do TMG, 27 de Fevereiro
Quando ouço R&B, seja na rádio ou numa sala de espectáculos, é como se tornasse a acreditar que a máquina do tempo realmente existe. E que, na maioria das vezes, esta se manifesta através da música. Neste caso concreto, é a simplicidade rítmica do género que continua a fascinar. Pelas mesmas razões porque se tornou a matriz do ‘rock’, e não só, a partir dos anos 60. Algo que, só por si, no mínimo, justifica uma comparência espaçada a um festim musical onde a linguagem do R&B é rainha. Sobretudo quando é invocada por intérpretes de eleição. Como é o caso precisamente de Simon ‘Honeyboy’ Hickling, o cantor e tocador de harmónica britânico que fechou a última edição do Festival “Inblues”. O qual, como se sabe, decorreu no último mês no Teatro Municipal da Guarda.
Quem é “Honeyboy”? Trata-se de uma figura destacada no género, com uma já longa carreira artística. A sua técnica única na execução da harmónica e o particular registo vocal granjearam-lhe uma sólida reputação internacional, como virtuoso desse instrumento. Mas Hickling é também compositor de fino recorte. Tem várias gravações no activo. Com a sua banda, lançou já cinco álbuns: “Straight from the Harp” (1994), “Blue it” (1998), “Blowin’ Through Town” (2001), “Bare Tracks”, com Gordon Smith (2002) e o recente “Blowin Thro Town”. A tournée que o músico e a sua banda fazem neste momento pela Europa – “Never Ending Tour” – de que este concerto faz parte, destina-se precisamente à apresentação de temas daquele trabalho, ao lado de composições anteriores e standards do repertório clássico. Foi também chamado a participar em diversas gravações como músico convidado: com Steve Marriott, a partir de 1988, em “Sing the Blues Live”, “Poll Tax Blues” e “Thirty Seconds to Midnight”. Esta colaboração foi o passo decisivo na sua carreira, que até aí se tinha limitado ao roteiro de bares das Midland. Os músicos acabaram por tocar juntos durante três anos, período esse que alguns críticos assinalam como o mais profícuo da sua carreira. Gravou ainda com Bo Diddley, em “I Don't Know Where I've Been” e com Anthony Thistlewaite (ex Waterboy), em “Aesop wrote a Fable”. Integrou igualmente uma memorável tournée, em 2001, intitulada “Nine Bellow Zero”. De um concerto onde participou, no London Astoria, em 2001, foi gravada em CD e DVD uma versão de “Big Train”, um tema de Steve Marriot. Actualmente, é reconhecido internacionalmente como um virtuoso, possuidor de um estilo inconfundível. Entretanto, tem participado nos principais festivais de Blues da Europa.
O espectáculo decorreu em crescendo, mas com a banda a agarrar o público desde a primeira nota. Depois, o profissionalismo dos executantes e a magia da harmónica de Hickling fizeram o resto. Lá para o fim, decidiu brindar a assistência com o hit: “Big Train”, de Marriot. Foi quanto bastou para empolgar os presentes e originar, em meu entender, o momento alto da noite.

Publicado no jornal "O Interior", em 5 de Março

Sem comentários:

Enviar um comentário