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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Tábua de marés (27)

"La Farsemanouche" - Gipsy Jazz
(http://www.myspace.com/lapharsemanouche)
Guitarras: Alcides Miranda e Nuno Serra; Contrabaixo: Nuno Fernandes.
Teatro-Cine de Gouveia, 31 de Janeiro

O trio nasceu em 2006, sob a batuta de Alcides Miranda. Desde a primeira hora, assumiu-se como um epígono do mestre Django Reinhardt e como sonoridades inspiradoras a música festiva por ele composta e executada. Numa altura em que o jazz era sobretudo um estilo de vida frenético e de uma incrível modernidade. A música manouche, de origem cigana, já existia muito antes de Django. Mas foi este e Stéphane Grappelli quem lhe inocularam os característicos fraseados jazzisticos e a fixaram como um género de culto. Que originou uma escola de músicos tão notável quanto extensa. Com o virtuosismo da guitarra como marca inconfundível, é claro. Mas a linguagem notabilizou-se também por outras razões. Ao invés de outros tempos, este tipo musical goza de uma quase unanimidade na sua apreciação. As razões do sucesso popular do jazz manouche são múltiplas. Passam obrigatoriamente pelas mãos de uma lenda – o inevitável Reinhardt – mas também pelas qualidades intrínsecas deste género musical: uma ligação forte aos valores tradicionais, o desejo de experimentação de novas linguagens e novas linhas melódicas, a busca de originalidade, a vitalidade transbordante. Swing manouche, jazz manouche, jazz cigano… Tudo designações diferentes para a mesma realidade. Uma realidade que não deixa indiferente quem a escuta. E foi o aconteceu no Auditório de Gouveia. A receita musical trazida pelo trio funcionou às mil maravilhas. Numa sala bem composta e que, desde o primeiro minuto, aderiu à proposta musical deste grupo. Que foi alinhando os temas apresentados quase sem pausas. Numa cadência semelhante à da própria música. Uma sessão que decerto fez render alguns neófitos a esta sonoridade. Porém, quem já a conhecia, não ficou certamente desapontado.

Publicado no jornal "O Interior", em 5 de Fevereiro

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