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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tábua de marés (12)


Feminine
Direcção e coreografia: Paulo Ribeiro
Textos de Fernando Pessoa, retirados de “O Livro do Desassossego” e “Ode Marítima”
Música original: Nuno Rebelo
Grande Auditório do TMG, 8 de Novembro, 21h30

Depois da coreografia "Masculine", estreada em Setembro de 2007, Paulo Ribeiro criou a versão feminina daquela peça, agora apresentada. "Feminine" estreou em Julho no Teatro Viriato. Segundo o autor, o projecto das duas peças continuará até 2009, data em que pretende juntar os dois trabalhos. A peça "Masculine" era constituída por quatro personagens masculinos, que se desdobram em vários outros. Que partilhavam histórias nem sempre bem sucedidas e recuperavam, graças aos textos de Fernando Pessoa, a "monotonia das vidas vulgares", a rotina como "caminho para a felicidade". Ora, esse desenho é recuperado em “Feminine”, claramente o lado B da aventura pessoana do coreógrafo. Que, no entanto, distingue: enquanto em "Masculine" se usaram, segundo ele, "pequenos apontamentos soltos de Fernando Pessoa para dar vazão a uma exuberância de discurso físico e falado", mostrando um lado "muito lúdico, muito exuberante", em "Feminine" foi conseguida "uma peça muito mais depurada em termos estéticos".
No espectáculo, cinco mulheres, interpretadas por quatro bailarinas (Elisabeth Lambeck, Erika Guastamacchia, Leonor Keil, São Castro) e uma actriz (Margarida Gonçalves), dão (o) corpo àquilo que no texto de apresentação é descrito, apropriadamente, como “a poética do movimento feminino”. Uma poética povoada de símbolos marcadamente femininos. Que ora estão presentes na cenografia (o verde alface estonteante do tapete e as torres de iluminação laterais), ora nos figurinos (os saltos altos, os folhos), ora na intensidade verbal, ora numa renovada jovialidade, nas palavras e nos gestos, ora numa disputa acalorada mas inconsequente, ora na cumplicidade quase telepática em relação a temas chave desse universo, como por exemplo os homens, esses pobres insectos atraídos pela luz e que esbarram sempre na janela, como se diz a certa altura… Embora se saiba que é possível atravessar para o outro lado. O desenho coreográfico é umas vezes ritmado pela música, numa selecção heterodoxa de Nuno Rebelo, outras pelas palavras e risos das protagonistas. Mas é pautado, sobretudo, pelos textos do autor da “Mensagem”. Cujo desconcerto e inconformismo vão anunciando e revelando aquilo que, no meu entender, é a marca essencial da obra: um brilho pop envolto numa enorme sensualidade.

Publicado no jornal "O Interior", em 6 de Novembro

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