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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Preto e Branco (pedido nº1 a Obama)

Imam Samudra, Amrozi bi Nashyram e Ali Ghufra, foram fuzilados anteontem em Java, Indonésia. Nomes difíceis de escrever como, em tempos, foi o de Mao Zedong.
O fuzilamento tem sido pouco usado porque não garante logo a morte clínica e não põe fim ao caso, como o demonstra a abertura das fossas comuns em Espanha. Escusado será dizer que, com este fuzilamento, não se ressuscitou ninguém dos atentados de Bali, há cinco anos atrás. Claro que os apoiantes dos três “mártires do Islão” se concentraram aos milhares, de punho direito erguido (como Mandela, em Presidente ou Ieltsine, depois de mandar bombardear o Parlamento russo). Bem...é claro que o islamismo radical substituiu paixões políticas, sobretudo ali, onde a vida das pessoas é como uma execução diária. A ofensiva vietcongue de Tet começou com um ataque suicida à Embaixada americana em Saigão, onde até diplomatas tiveram de se defender à metralhadora.
Uma pessoa de outra geração diria que estes três “nem pretos, nem brancos” nativos, vestidos de lençóis e que rezavam no pátio da prisão com os guardas, sempre a sorrirem (porque já tinham encomendado a vida a Deus), tinham um sorriso e uma serenidade perturbantes. Claro que se não arrependeram. De Timothy McVeigh, o anarco-fascista branco, só conseguimos uma “preocupação pelo sofrimento das suas 157 vítimas”.
A condenação à morte é como o uso da bomba atómica: não há duas sem três e, uma vez lançada, não há retorno. O condenado, sabendo melhor que ninguém que só a Deus cabe julgar, ou ao Destino (porque certa, certa é a Morte) raramente se arrepende. Usar a “bomba atómica”, não é fazer as vezes de Deus. É não dar sequer hipóteses a Deus de existir. Não admira, portanto, que vendo os Executores administrar aquilo que calha a todos, mais cedo ou mais tarde, o condenado deixe de os ver, como estes decidiram tapar-lhe a vista, para sempre. Numa época de cegueira em que cegámos pelo excesso de luz, começamos a ter visões no escuro e a ouvir vozes nos sons mais banais. Não é loucura, é esgotamento. Assim, quando pronunciarmos “Barack, Hussein, Obama” não teremos formas de nos defender , como quando começámos a cantar a cantilena “Mao Tsé-Tung” e acabámos aos gritos fanáticos. Assim, outros por esse mundo fora o farão com outros nomes. A não ser que Barry, o moço de Illinois, comece a proibir os executores em lençóis, em fato e gravata, em bata branca ou com carta de condução.
A diferença entre os mártires de Bali e estes três novos mártires é a de que estes foram postos a viver como mortos e aqueles foram declarados mortos como se tivessem estado sempre vivos. Ora, esta eternidade de cadáveres é preta e é branca como os zombies que teimam em despertar, quando o dia acabou para todos. Perguntarão para que serve acabar com a pena de morte se o que precisamos é de comer? Isso mesmo: nem só de pão vive o Homem.
André

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