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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os macacos

O grande naturalista Franz de Waal estudou na segunda metade dos anos setenta uma colónia de macacos no Jardim zoológico de Arnhem. Outros o fizeram antes e outros o farão depois. Do relato ficam os nomes deles, Nikkie, Yeoren, Luit, Mama, Rosjie, Puits. Parece que, depois de Luit ter morrido, quando exibiram um filme antigo à macacada, de novo a “audiência” mostrou sinais de amor e ódio ao “ressuscitado” da tela. Puits gostava muito de Waal porque este lhe ensinara a dar o biberão ao seu macaquito, coisa que foi a primeira vez que tal se conseguiu em cativeiro. Ler aquelas páginas e ver as fotografias de animais tão individualizados faz-me sentir um assassino, quando matei por sadismo, um gatito, em miúdo. Os animais são gente. Todos os animais. E as plantas também. E as pedras que cantaram quando Jesus passou. E nós não somos macacos. Somos apenas outros, ainda surdos para perceber o que os macacos recordam de nós, ou os pássaros, embora a ecologia nos permita muito primitivamente ver o que elas, as pedras, pensam de nós. Mas uma coisa sabemos: é que, num instante, pode sair um leão, cá de dentro, ou morder uma serpente, ou emergir um crocodilo. Um destes dias, o tratador do ursinho Knut morreu de repente na banheira. Que terá o seu coração sentido dessa estranha sinfonia sem som que foi a sua cabeça encostada à do urso, para todos vermos? Que Espírito o levou?
Pelo menos uma coisa sabemos: não acreditemos muito nas imagens que fazemos de nós, porque elas podem turvar-se num instante. A noite pode trazer demónios, como a manhã trouxe anjos e, por isso, não desprezemos o devoto que reza continuamente. Aquilo que podemos dizer a uma sociedade quando a multidão nos ouvir entusiasmada, não pode ser muito diferente daquilo que dizemos à sombra obscura, na solidão, neste caminho tão longo, em que pouco somos mais que uma formiga, com jeitos de cigarra... peço ao céu que o Dalai Lama não revogue a sua política de infinita paciência.

André

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