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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Na morte de Jörg Haider

Vi-o de longe, uma vez, e uma outra, ao lado de Riess-Passer, a mulher que governou a Áustria, por vez dele, quando a União Europeia rechaçou o país. Parecia uma ave das montanhas que contempla o caçador antes de ser abatida, ou seja, de cabeça erguida. Tinha o nariz comprido de quem respira longe as mensagens odoríferas de ódio e amor que circulam no vento da estepe, de onde todos europeus, vimos. Era um populista, com orgulho. Era também um liberal, mesmo quando elogiou a política do trabalho de Hitler (certamente que não se referia ao trabalho escravo que a Imprensa se encarregou de extrapolar) ou quando foi a algumas cerimónias de veteranos da Guerra, que, na Áustria, incluíam ex-SS. Começou a sua carreira graças ao amigo/inimigo do socialista Bruno Kreisky, que era o liberal Ferrari-Brunnenfeld, graças a um Professor de Direito muito reaccionário e graças à fortuna do seu pai, que adquiriu muitos bens por um xelim, a um Judeu expulso. Mas nada disto determinou Haider. A verdadeira Democracia não é o argumento da maioria, mas o espaço para a diferença, a individualidade e a incerteza. Ao contrário de Kurt Waldheim, que escondeu o Passado, Haider só tinha futuro. Sempre “Peter Pan”, sempre criança, muito mais humilde e acessível do que se pensa, mas também macaco, fugidio e tenaz como um duende das montanhas. Os austríacos gostavam dele e, ser populista no país de Schubert, Mozart e Maria Theresa, é estar ao nível de um catedrático. Como há muitos mais heróis do que suspeitamos, Haider foi perseguido por toda a gente sem outro refúgio que uns copos numa cervejaria de Outono. Nem todos os heróis se contam entre os vencedores. Um dos mais belos poemas que li foi encontrado no bolso do peito de um pára-quedista alemão caído em combate, certamente com a “Edelweiss” na lapela, e que tem a cor dos regatos puros da montanha. No poema diz-se: “Dá-me Deus tudo o que resta depois de teres dado as certezas. Dá-me o nevoeiro”.

André

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