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quarta-feira, 9 de julho de 2008

A vida minimal e repetitiva - 7

As pessoas com um forte sentimento religioso nunca me decepcionaram. Talvez porque tenham percebido de perto como a vida é encantadoramente simples e trágica. Ou então, ao contrário dos revolucionários de café, levaram a peito a necessidade de uma concordância mínima entre a fé, a acção, e o estudo. Ou, pelo menos, entre aquilo em que se acredita e aquilo que se é. Ou, simplesmente, que intuiram o facto de o ter só existir para não ter. Por outro lado, conheço uma série de ideólogos inconsequentes, radicais gourmet com uma vidinha burguesa até ao vómito. Mas incapazes de tomar uma decisão corajosa ao longo das suas penosas existências. No entanto, apregoam com veemência as liberdades mais avançadas, cultivam um gosto cultural marginal que trazem sempre na lapela, troçam da cultura popular e do mérito. Mas só para adornarem a sua miséria interior. Na verdade, não sentem, não erram, não choram, não experimentam, não dão um passo em frente, não se apaixonam. Nada. Fazem lembrar aqueles caniches irritantes, que ladram por tudo e por nada, num desesparante tom agudo. E que depois vão a correr para o dono, triunfantes. Há um até que deixou de me falar porque a mulher o proibiu. Mediante uma lista negra que lhe pôs à frente, suponho. Um dos mais radicais, por sinal. Dos mais "avançados" e "revolucionários". Dos mais desprezíveis. Dos mais tristes.

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