Criou-se a ideia de que, nos encontros literários, os escritores se aproximam do público, o público se aproxima da literatura e os livros se transformam num prato de amendoins no meio da cavaqueira. Por sua vez, cre-se que os escritores supostamente despem a sua áurea de inacessibilidade - "até falam de futebol", disse-me uma prima minha que esteve num encontro desses, há uns anos -, fazem esquecer epopeias misantrópicas e trocam acaloradamente os respectivos cheiros a sovaco. Alguns não se importam mesmo em subir a saia e deixar escapar algumas inconfidências acerca da sua próxima obra. Outros, são já profissionais da "coisa". Misturam-se no milieu como agentes infecciosos oportunistas. Nunca escreveram nada que se aproveitasse, mas o seu esforço penetro-insinuante acaba por dar frutos sumarentos. Estão lá quase sempre. São vistos. E se são vistos, algum editor acaba por convidá-los para. Neste caso, a chamada endurance do croquete, com final feliz. Já agora, por falar em croquete, vou dizer o que, para mim, representa a maioria dos encontros literários: sessões de punhetas colectivas. Nem mais. Isto porque os verdadeiros encontros literários passam-se, digamos, noutra frequência hertziana, noutro filme: é o escritor, quando se encontra a si próprio, ou seja, o seu terreno. Alguns exemplos: Malcolm Lowry e o México, Duras e a Indochina, Rilke e os anjos, Kafka e as sombras, Yourcenar e as ilhas gregas, Camus e o sol do Mediterrâneo, Nabokov e o exílio, Borges e os labirintos, Faulkner e Yoknapatawpha.
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