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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Acordo Ortográfico? Não, obrigado! (5)

Continua a recolha de assinaturas na PETIÇÃO / MANIFESTO on-line contra o acordo ortográfico. As primeiras 17.300 assinaturas foram entregues em 8/5/2008 ao Presidente da Assembleia da República.

5 comentários:

  1. A Língua portuguesa está a passar por um período de implantação, quer nos países Africanos de Língua Portuguesa, quer em Timor Leste. Na Guiné-Bissau esteve até para ser adoptado o Francês como língua oficial e em Timor-Leste o Inglês. Daí será fácil concluir que a língua portuguesa nas nossas ex-colónias não ficou muito bem cimentada. Esses países já não são colónias portuguesas, são livres e tanto poderão seguir o português falado em Portugal, por 10 milhões de habitantes, como o português falado no Brasil, por 220 milhões.

    Se Portugal teimar em não se aproximar da versão de português do Brasil sujeita-se a ficar só e, mesmo assim, não vai conseguir manter a pureza da língua porque ela evolui todos os dias, independentemente da questão que agora se nos põe: todos os dias há termos que caem em desuso e outros novos que são adoptados pela nossa língua, em especial termos ingleses que são adoptados sem quaisquer modificações.

    Se não houver aproximações sucessivas ambas as versões do português continuarão a divergir e daqui a algumas gerações serão línguas completamente distintas. Será então a altura de Portugal confirmar que saiu a perder porque ficou agarrado a um tabu que não conseguiu ultrapassar.

    O Brasil tem um impacto muito maior no mundo do que Portugal, dada a sua dimensão, população e poderio económico que em breve irá ter. O nosso português tem hoje algum peso muito em função dos novos países africanos PALOPs ) e de Timor Leste, mas ninguém garante que esses países não venham um dia a aproximar o seu português da versão brasileira e há até já alguns sinais nesse sentido. A população do Brasil permite altas tiragens das publicações que ficarão mais baratas e, se houver maior harmonização, as editoras portuguesas (e amanhã dos PALOPs ) poderão vender mais no Brasil.

    Se Portugal permanecer imutável um dia poderá ficar só: a língua portuguesa de Portugal será então considerada uma respeitável língua antiga (o Grego é ainda mais), da qual derivou uma outra falada e escrita por centenas de milhões de habitantes neste planeta. O nosso orgulho ficar-se-á por aí e pronto!

    Ambas as versões de português têm uma raiz comum e divergem há cerca de duzentos anos. Outros duzentos e já não nos entenderemos: terão que ser consideradas duas línguas distintas.

    O acordo ortográfico é uma decisão apenas política e quanto aos linguistas, apenas terão que assimilar as alterações e segui-las. Não se poderá alterar por decreto que uma molécula de água passa a ter dois átomos de oxigénio e outros dois de hidrogénio; ou que 5 vezes 5 passa a ser 28. Mas poderá alterar-se por decreto a grafia de "acção" para "ação" e quem não aceitar a alteração passa a cometer um erro, incluindo o célebre Prof. Vasco Graça Moura. Com todo o respeito, mas também não são os Juizes que legislam, apenas têm que interpretar e aplicar as leis.

    Portugal nada ganhará de imediato com a alteração mas tem muito a perder no futuro se rejeitar agora o acordo que o Brasil está disposto a aceitar.

    Zé da Burra o Alentejano

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  2. Deixei de propósito um opinião defensora do Acordo. Até para os leitores poderem observar in loco a ignorância e a ligeireza com que esta gente desfila o seu catecismo.

    Mas vejamos em pormenor:

    1º O português continental e do Brasil já divergem há muito tempo, enquanto língua falada. Só um néscio acreditaria que um acordo deste tipo, de pretensa harmonização ortográfica, poderia fazer convergir as duas variantes.
    2º Este acordo destina-se basicamente a satisfazer as pretensões do Brasil a vir a ser membro do Conselho de Segurança da ONU e do mercado editorial daquele país ficar com uma mercado mais vasto. Neste acaso não haverá reciprocidade e que ninguém tenha ilusões sobre isto: as editores portuguesas vão ficar com o encargo da adaptação ortográfica e nunca irão tirar qualquer benefício do acordo.
    4º O português têm uma matriz europeia que ficará em causa com esta cedência ao Brasil. Neste ponto, a esmagadora maioria dos linguistas estão de acordo.
    3º Esta gente confunde preservação da herança histórica e etimológica da língua com isolacionismo. São os mesmo seguidores do catecismo politicamente correcto que, na altura certa, tirarão da cartola a acusação de neocolonialismo e outros.
    5º Lembrando os esbirros da extinta Censura, estes cata-ventos exemplares já se arrogam o direito de vir impôr a norma do Poder, de apontar o dedo acusador e delatar o ERRO. Ainda nem sequer esta mancha negra da história nacional foi aprovada e já cumprem o seu papel de capatazes.

    Pois ouça bem, caro comentador e gente da sua laia: na vida que me resta, não hei-de escrever uma palavra que seja nesta língua macarrónica sub-brasileira que meia dúzia de luminárias nos querem impôr! E aconselharei toda a gente a fazer o mesmo!

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  3. Agradeço ter mostrado o meu comentário, que, todavia, está presente noutros locais.

    A língua portuguesa evoluirá sempre, independentemente da nossa vontade: seja em no sentido de convergir com os CPLP ou não. Eu acredito que a convergência vale o esforço, se pensarmos a longo prazo.

    Basta pegar num livro de há cem anos e facilmente constataremos diferenças gráficas, por exemplo: commissario, auctoridade, jury, official, (e o seu plural) officiaes, monarchia, d'elle, d'ella, d'este d'aquelle, n'esse, n'essa, pharmacia, elephante, sêco, Victor, Luíz, Pôrto, Cezimbra, Barca d'Alva...Se repararmos bem as alterações agora em causa vão no mesmo sentido das anteriores, fazendo cair letras que não servem para nada. Nalguns casos (poucos) poderão servir para distinguir o sentido da palavra, mas palavras homografas já as temos e não nos causam confusão: temos o BANCO do jardim ou da nossa casa de banho e também temos o BANCO onde depositamos ou levantamos o dinheiro e não nos confundimos por isso.

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  4. Caro/a leitor/a:

    1º Discordo que haja letras que não servem para nada. No caso das consoantes mudas, elas existem precisamente para "abrir" a vogal imediatamente seguinte ou anterior. O seu desaparecimento vai levar a absurdos, do ponto de vista fonético.
    2º Por outro lado, é verdade que a reforma de 1911 eliminou muitos arcaísmos. Mas fê-lo numa perspectiva de aperfeiçoamento linguístico e não como um trunfo político e diplomático, ou mera cedência a interesses comerciais.
    3º No mundo da informática, já se instalou a norma da existência de duas variantes do português, pois a maioria dos programas e dos sistemas operativos dispõe dessa opção.
    4º A convergência dos CPLP é desejável, mas não acredito que seja uma prioridade para a comunidade, a não ser para o Brasil, por razões geo-estratégicas.
    5º Por outro lado, existe um exemplo paradigmático - o inglês - que desaconselha a unificação por via administrativa. Os EUA, pelas razões que se conhecem, cimentaram a posição dominante do inglês como língua global. O léxico e a ortografia dos dois lados do Atlântico apresenta diferenças assinaláveis. No entanto, num feliz exemplo de pragmatismo anglo-saxónico, encarou-se tacitamente o facto como uma oportunidade de enriquecimento e expansão, da língua, sem a desvirtuar. Até porque, a norma culta continuará a ser sempre a britânica. Algo que o as editoras sabem muito bem.

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  5. A propósito deste assunto, embora indirectamente, gostaria de referir uma questão,que muitos considerarão politicamente incorrecta. O Brasil fala a mesma língua que nós, é certo. Mas será por isso que muitos portugueses, entre os quais me incluo, terão que sentir-se mais próximos dos seus pretensos irmãos, só porque a língua é comum? No meu caso, a resposta é claramente negativa. A literatura, a música e a cultura brasileira em geral não me dizem absolutamente nada. Não leio um livro de um autor brasileiro há muito tempo, com excepção de alguns poemas do Vinicius e do Drummond de Andrade. Música, só de ouvir um tema que não do Gabriel o Pensador, do Egberto Gismonti, do João Gilberto ou da Elis, fico logo com urticaria. Aquele facilitismo, aquele hedonismo irresponsável e vazio não me dizem nada. Preparem-se agora para o choque final: à partida, numa perspectiva de convergência cultural,sinto-me francamente mais perto de um espanhol, (qualquer que seja a sua nacionalidade e galego por maioria de razão) do que de um brasileiro. Basta ver a quantidade de livros de autores espanhóis na minha biblioteca, as revistas publicadas naquele país e que lá adquiro (uma das vantagens de morar a 20 minutos da fronteira), os CDs de música popular das várias regiões do país vizinho, etc. Isto não invalida, naturalmente, que possa haver um entendimento profundo e cúmplice com muitos brasileiros. Porque é que o Estado, então me quer obrigar a escrever como os brasileiros? Será que mesmo eles têm algum interesse nisso? Portanto, ao contrário deste acordo, não me repugnaria um outro que buscasse a unificação do português padrão com a norma galega. Ao menos, respeitaria a História e uma raiz comum.

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