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terça-feira, 1 de abril de 2008

Reflexões sobre política cultural (2)

(ler anterior)
Prossigo o lançamento de alguma matéria comburente para o debate acerca do modelo público de cultura. O que atrás se disse acerca do Humanismo, significa que só graças ao esforço individual seremos capazes de nos apetrechar com um critério que nos permita viajar através da história. Ao fazê-lo, apropriamo-nos dela, conseguindo distanciar-nos da ditadura cultural do tempo presente. O humanismo, definitivamente, é isso, o cultivo da nossa inteligência e sensibilidade para podermos julgar os resultados das artes e das letras com discernimento e liberdade. O contrário de uma política cultural cujo objectivo não é o diálogo com o passado, mas a transformação desse passado numa indústria de entretenimento. Nisso consistiu a transição de um modernismo transgressor para um posmodernismo consumista e multicultural. O mais significativo na acção do Estado cultural no modelo francês, seguido entre nós, é o seu fracasso perante a redução da cultura a uma variante do consumo de massas. Um consumo que o próprio Estado, no melhor dos casos, fomentou. E no pior, a sua impotência diante da pura e simples eliminação da cultura. Esta eliminação é alimentada pela deterioração progressiva dos saberes humanistas, mas também científicos, no terreno da educação. Deste modo, os paladinos do relativismo, em particular as cadeias televisivas, viram, na liquidação do cânone e no empenho oficial em impôr o vanguardismo e a ruptura no mundo artístico, o melhor passaporte para o vale tudo. E assim, porque tudo é igual e tem o mesmo valor, "a vida guiada pelo pensamento cede suavemente o seu lugar ao terrível e ridículo cara a cara do fanático e do zombie" (Alain Finkielkraut, A Derrota do Pensamento). Isto é, diante das duas principais nódoas que obscurecem o panorama da cultura actual: a monomania identitária do nacionalismo e o relativismo consumista e omnívoro da posmodernidade.