Lembram-se ainda da figura do coleccionador? Esse mesmo, um tipo meta-humano que prospera na blogosfera. E cujas carências básicas ao nível cultural se escondem atrás de um vertiginoso up to date de informação acessória. Já recomendava Eugénio de Andrade: não colecciones dejectos / o teu destino és tu. Ele lá sabia porquê. Entretanto, abriu mais uma loja FNAC em Viseu. Este tipo de estabelecimentos, juntamente com os índices dos livros, a literatura promocional que acompanha os Cds, os DVDs, os recortes noticiosos e o Wikipédia, é o habitat natural do coleccionador. Mas nada de confusões. Claro que o panorama da oferta de bens de consumo na área da cultura, em Portugal, se pode dividir entre o pré e o pós FNAC! Claro que, depois da Fnac, nada voltou a ser como era. Claro que as vantagens para o público são inúmeras. Especialmente em localidades onde nem sequer há uma livraria ou uma loja de venda de audiovisuais dignas desse nome! Mas não é disso que aqui se trata. Quando vou a uma FNAC - tenho uma predilecção pela loja do Fórum de Almada, a mais cuidada e diversificada, em termos de oferta, na área da Grande Lisboa - levo sempre na cabeça uma lista de aquisições pré-definida. Deixando uma margem de 1/3 para os amores imprevistos, à primeira vista. Os coleccionadores, pelo contrário, vejo-os em êxtase contínuo, zombies capazes de um orgasmo múltiplo a qualquer momento...
Voltando ao tema, recebi um email anunciando a abertura da tal loja no Palácio do Gelo, em Viseu. Sobra porém uma outra questão, esta talvez mais séria. O cabeçalho do email diz: a FNAC chegou a Viseu. Como se dissesse: foi inaugurado mais um troço da estrada que levará a civilização até ao interior recôndito e arcaico. Como se assim fosse debelado, por momentos, o síndrome da altitude de que o desenvolvimento padece neste país. E de que a organização aparece como lídima mensageira. Ora, a Fnac é uma empresa privada. Poder-lhe-á ser censurado o facto de só abrir lojas onde há população e poder de compra que o justifique? É claro que não. Mas se a cadeia fosse realmente tão ambiciosa como quer dar a entender, não poria nunca de lado a ideia de abrir uma loja nas capitais de distrito onde elas ainda não existem. Seria um risco calculado e com resultados surpreendentes. Refiro-me não ao habitual formato megastore, mas com uma dimensão mais modesta, semelhante à loja que existe no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa: reduzida, oferecendo o indispensável, embora mantendo a diversidade, a acessibilidade e o preço. E o Estado, e as autarquias, podiam ter algum papel neste processo? É claro que sim. Negociando contrapartidas sensatas e exequíveis. Até já.
NOTA: sobre este tema, embora num registo diferente, ver este texto do Américo Rodrigues, no "Café Mondego".
Voltando ao tema, recebi um email anunciando a abertura da tal loja no Palácio do Gelo, em Viseu. Sobra porém uma outra questão, esta talvez mais séria. O cabeçalho do email diz: a FNAC chegou a Viseu. Como se dissesse: foi inaugurado mais um troço da estrada que levará a civilização até ao interior recôndito e arcaico. Como se assim fosse debelado, por momentos, o síndrome da altitude de que o desenvolvimento padece neste país. E de que a organização aparece como lídima mensageira. Ora, a Fnac é uma empresa privada. Poder-lhe-á ser censurado o facto de só abrir lojas onde há população e poder de compra que o justifique? É claro que não. Mas se a cadeia fosse realmente tão ambiciosa como quer dar a entender, não poria nunca de lado a ideia de abrir uma loja nas capitais de distrito onde elas ainda não existem. Seria um risco calculado e com resultados surpreendentes. Refiro-me não ao habitual formato megastore, mas com uma dimensão mais modesta, semelhante à loja que existe no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa: reduzida, oferecendo o indispensável, embora mantendo a diversidade, a acessibilidade e o preço. E o Estado, e as autarquias, podiam ter algum papel neste processo? É claro que sim. Negociando contrapartidas sensatas e exequíveis. Até já.
NOTA: sobre este tema, embora num registo diferente, ver este texto do Américo Rodrigues, no "Café Mondego".