Ontem passou um documentário no Discovery Channel sobre os Descobrimentos portugueses, intitulado "Naus e Caravelas". A produção era norte-americana, como é norma naquela estação. O programa apresentou-se bastante equilibrado, quer do ponto de vista narrativo, quer do rigor histórico. Incluía depoimentos de historiadores e investigadores nacionais, bem como figuras ligadas à oceanografia. A que se juntaram declarações de investigadores indianos, japoneses e um luso-descendente de Malaca. A informação centrou-se na tecnologia marítima e militar desenvolvida pelos portugueses nos séculos XV e XVI, e sobretudo na construção naval. Até aqui, nada a apontar. Todavia, há um aspecto que, infelizmente nada tem de insólito, mas já começa a ser anacrónico. Trata-se da reconstituição dos ambientes da época, com figuração própria. Os marinheiros portugueses eram apresentados como um grupo de façanhudos com ar aciganado, briguentos, pouco mais do que homens de Neanderthal manejando astrolábios, quadrantes e levantando padrões por onde passavam. O próprio infante D. Henrique mais parecia um ayatollah do séc. XV. Imagino que se mostrassem as portuguesas, decerto não faltariam bigodes farfalhudos e peitos de fazer inveja à Ursula Andress.