Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ler os outros

Stranger than Paradise, de sua graça, é a minha última grande descoberta na blogosfera. Um espaço anónimo, pois então (and so what?). Gosto dos blogues assim, nada a fazer: um laboratório onde se pega num não tema e se dá a conhecer como tema, depois de uma heterodoxa observação microscópica. Um restaurante onde não são servidas entradas, pois todas as postagens são pièces de résistence. Um painel onde se afixam os resultados da vagabundagem, sendo que os objectos apresentados - sejam eles livros, discos, paisagens, tendências, movimentos na margem, obras gráficas - descrevem um movimento circular, ciclotímico. De modo que o leitor não é esmagado pela proficiência do autor, pela vastidão do seu "conhecimento", pelo mosaico narcísico que lhe é apresentado no formato enganoso da partilha do gosto, como tenho visto em inúmeros blogues. Aqui não. Cada objecto é apresentado como uma possibilidade permanente de desconstrução, o resultado de uma curiosidade insatisfeita. Um espaço em branco num convite descomprometido e não uma peça de um catálogo. Um sítio onde se entra e se vai saboreando sem horários a cumprir. Ah, já agora, os danos colaterais são mais do que certos.

2 comentários:

  1. "Com o devido respeito", como soi dizer-se, só não percebi essa dos danos colaterais - já que o resto não é para perceber, é para intuir. Digo eu...
    amp

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  2. E diz bem, caro António. Esteja descansado que os danos colaterais se resumem à função mais nobre da literatura, da arte e, porque não, de um blogue: corromper, surpreender. Bom, "descansado", é uma expressão simpática. Eu nunca descansei nesse ponto.

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