Tenho saudades dos verdadeiros cartões de boas festas. A maioria com grafismo kitsch, é certo. Não obstante, havia neles uma materialidade piedosa, sincera. Cheiravam a cola, tinham erros, um destinatário certo. Não eram simples impulsos virtuais, mas o sinal de um esforço, de um elo que se robustecia, de um potlach postal onde a generosidade não era palavra vã. Tudo isto desapareceu. Agora valem as "mensagens" de natal, que entopem as caixas de correio electrónico e a memória dos telemóveis. Ao spam das boas práticas comerciais, juntam-se as mensagens individuais de gente pouco recomendável, que assim alivia a sua má consciência. A verdadeira generosidade está ausente, é claro. É que as pessoas já não dialogam. Estamos cada vez mais despojados de tempo para os outros e para nós próprios. Comunicamos cada vez menos. As tecnologias, ao estimularem a preguiça, vieram potenciar o frenesi consumista nas nossas vidas. A realidade dá muito trabalho: visitar os outros, procurá-los nesta quadra propícia, escrever-lhes umas linhas num papel, metê-lo num envelope e depositá-lo numa caixa de correio é quase uma blasfémia. Com os sms e os e-mails vamos dando corda ao vazio, até à queda final.
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