No "Água Lisa", de que sou leitor quase-diário, João Tunes acaba de publicar um comentário sobre as praxes académicas, partindo de um texto que aqui editei. Fá-lo com bastante acuidade, pelo que o debate poderá ganhar com isso. Devo dizer, antes de mais, que embora perfilhe a sua grelha analítica, não sigo algumas das conclusões a que chegou.
1. É claro que não existe um "direito a praxar", da mesma forma que não existe um "direito a ser praxado". Nem será defensável tolerar agressões e humilhações várias, só porque se filiam numa tradição, seja isso o que for. Outra coisa são os costumes versus direito positivo. Aposto que orientamos a nossa vida numa ratio de 80% para os primeiros e 20% pelo segundo. Muitas vezes, o direito funciona como uma caução para o costume que acolhe e um index para o que ostraciza. E a balança está deveras inclinada para o primeiro prato. É por isso que o "direito por tradição" a que se refere, só o é verificando-se cumulativamente dois pressupostos: um amplo consenso social que o legitime; estando em causa bens juridicamente tutelados, a linha divisória passa pelo que é disponível, ficando de fora o que não é. Só no primeiro caso aceitaria a tradição. O que vale para qualquer uma, mesmo que o pensamento politicamente correcto lhes tente lançar o opróbrio: as touradas de morte, a matança do porco, os rituais nas sociedades secretas e as praxes em geral.
2. Não é igualmente razoável, como afirma, incluir no "contrato académico" de que fala qualquer estatuto determinado pela estranheza de quem entra ou pela prepotência de quem "já está". Mas isso nada tem a ver com paternalismo. O mais natural para quem chega a uma instituição, a um novo local de trabalho, é procurar a informação que lhe possa ser útil. Nada melhor do que os seus pares para lha transmitirem. Quer pelo exemplo, por uma reconhecível consciência ética, pela vastidão do conhecimento, pela coragem. Ou pelo seu oposto. Caberá ao recém-chegado validar as suas referências. Facultativas e não impostas, sublinhe-se. A Universidade é o local por excelência onde se fixam as coordenadas políticas, éticas e ideológicas que serão transportadas para o resto da vida. Minimizar esse encontro, possibilitado pela sobriedade, pela generosidade e por uma disponibilidade ímpar, é um erro que qualquer sociedade pagará caro. É legitimar o "cada um por si", o individualismo feroz, a anulação do logos. Daí falar em "crescimento".
3. De acordo, a "humilhação" e a "integração" só pelo praxado são percebidas como tal. Mas tomar a ideia até ao limite é elevar a simples subjectividade até ao absurdo. Há um carácter lúdico na praxe que não é de desprezar e que, quer o autor queira ou não, é comum aos participantes voluntários num mesmo espectáculo. Neste caso, o erzatz paródico da verdadeira violência, da verdadeira humilhação. É que, quando falo em integração, não é no sentido sociológico, mas num outro, que transporta para outra esfera. Por um lado, existem tipos de praxes, estas sim realmente bárbaras, associadas a universos fechados, e de que raramente há notícia: prisionais, militares, etc. O que as distingue da praxe académica, tal como eu a entendo, é que, para além de serem barbárie pura, não possuem o que esta tem como marca central: o seu lado teatral, a sua faceta catártica e subversiva. Organizada como um ritual em que o cómico nega a sacralidade do próprio ritual, que promove a sua lenta dissolução através da sátira, que lembra a universalidade do “humano demasiado humano”, que brinca, que quer a derrisão, que cria a dúvida em relação a um conhecimento que se vai adquirir para servir os verdadeiros praxantes.
4. Por último, cabe discordar de João Tunes, quando afirma que "nenhum cidadão tem o direito a abdicar dos seus direitos de cidadania, submetendo-se a poderes não legítimos." Neste caso, circunscreve a praxe a uma "violência não autorizada", sendo que participar nela "é uma conivência com o não permitido". Presumo que o autor parte do princípio, tal como eu, de que o Estado tem o monopólio da violência, em sede penal, e no respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos. Vamos então por partes. Se for negada aos cidadãos a possibilidade de abdicarem dos seus direitos, então deixaria de haver no Código Penal bens jurídicos disponíveis, incluindo a figura da exclusão da ilicitude no caso de ofensas corporais com consentimento expresso da vítima, fora das situações que envolvem tratamento médico. A conciência e o livre arbítrio preexistem em relação ao direito positivo. Os direitos de cidadania são essencialmente negativos: posso exigir, erga omnes, o seu reconhecimento e o seu respeito. Mas eles existem sobretudo para que possa exercer a minha liberdade e lutar pela minha dignidade. Por isso, não estarei nunca a abdicar deles se me submeter a uma autoridade que, não sendo legítima para uns, é legítima para mim. Se assim não fosse, ficaria arredado o direito, esse sim irrenunciável, à desobediência civil, à insurreição, ao não cumprimento de uma lei injusta, independentemente da sua origem. Por outro lado, a praxe académica é um costume. Concorde-se ou não com ela, associando-o estritamente ou não a uma prática violenta. Aferir ou não da sua legitimidade em função de juízos de valor não chega. Outra coisa é, como faço, afirmar que ela reproduz status sociais e dá livre curso a comportamentos psicóticos. Ou que se limita ao macaquear indigente de maus filmes de terror. Para tudo o resto, existem os tribunais. Rematando, o autor fornece o exemplo ad absurdum da escravatura voluntária como corolário dos seus argumentos. Devo dizer que, no caso, havendo uma manifestação de vontade dos intervenientes nesse sentido, livre de qualquer coação, consciente e expressa, na ausência de qualquer ilícito associado, nada há que o proíba. Poderemos naturalmente ter uma opinião sobre o assunto, mas não julgar quem o fizesse. Qualquer cidadão pode renunciar àquilo de que, no domínio da sua esfera jurídica, pode dispor. Até mesmo à sua liberdade. Da mesma forma que é o único decisor acerca do seu corpo, ou das substâncias que entender consumir. Por maioria de razão, decidir ser ou não praxado, quando isso é possível, advém de uma convicção imperscrutável e eminentemente pessoal.
1. É claro que não existe um "direito a praxar", da mesma forma que não existe um "direito a ser praxado". Nem será defensável tolerar agressões e humilhações várias, só porque se filiam numa tradição, seja isso o que for. Outra coisa são os costumes versus direito positivo. Aposto que orientamos a nossa vida numa ratio de 80% para os primeiros e 20% pelo segundo. Muitas vezes, o direito funciona como uma caução para o costume que acolhe e um index para o que ostraciza. E a balança está deveras inclinada para o primeiro prato. É por isso que o "direito por tradição" a que se refere, só o é verificando-se cumulativamente dois pressupostos: um amplo consenso social que o legitime; estando em causa bens juridicamente tutelados, a linha divisória passa pelo que é disponível, ficando de fora o que não é. Só no primeiro caso aceitaria a tradição. O que vale para qualquer uma, mesmo que o pensamento politicamente correcto lhes tente lançar o opróbrio: as touradas de morte, a matança do porco, os rituais nas sociedades secretas e as praxes em geral.
2. Não é igualmente razoável, como afirma, incluir no "contrato académico" de que fala qualquer estatuto determinado pela estranheza de quem entra ou pela prepotência de quem "já está". Mas isso nada tem a ver com paternalismo. O mais natural para quem chega a uma instituição, a um novo local de trabalho, é procurar a informação que lhe possa ser útil. Nada melhor do que os seus pares para lha transmitirem. Quer pelo exemplo, por uma reconhecível consciência ética, pela vastidão do conhecimento, pela coragem. Ou pelo seu oposto. Caberá ao recém-chegado validar as suas referências. Facultativas e não impostas, sublinhe-se. A Universidade é o local por excelência onde se fixam as coordenadas políticas, éticas e ideológicas que serão transportadas para o resto da vida. Minimizar esse encontro, possibilitado pela sobriedade, pela generosidade e por uma disponibilidade ímpar, é um erro que qualquer sociedade pagará caro. É legitimar o "cada um por si", o individualismo feroz, a anulação do logos. Daí falar em "crescimento".
3. De acordo, a "humilhação" e a "integração" só pelo praxado são percebidas como tal. Mas tomar a ideia até ao limite é elevar a simples subjectividade até ao absurdo. Há um carácter lúdico na praxe que não é de desprezar e que, quer o autor queira ou não, é comum aos participantes voluntários num mesmo espectáculo. Neste caso, o erzatz paródico da verdadeira violência, da verdadeira humilhação. É que, quando falo em integração, não é no sentido sociológico, mas num outro, que transporta para outra esfera. Por um lado, existem tipos de praxes, estas sim realmente bárbaras, associadas a universos fechados, e de que raramente há notícia: prisionais, militares, etc. O que as distingue da praxe académica, tal como eu a entendo, é que, para além de serem barbárie pura, não possuem o que esta tem como marca central: o seu lado teatral, a sua faceta catártica e subversiva. Organizada como um ritual em que o cómico nega a sacralidade do próprio ritual, que promove a sua lenta dissolução através da sátira, que lembra a universalidade do “humano demasiado humano”, que brinca, que quer a derrisão, que cria a dúvida em relação a um conhecimento que se vai adquirir para servir os verdadeiros praxantes.
4. Por último, cabe discordar de João Tunes, quando afirma que "nenhum cidadão tem o direito a abdicar dos seus direitos de cidadania, submetendo-se a poderes não legítimos." Neste caso, circunscreve a praxe a uma "violência não autorizada", sendo que participar nela "é uma conivência com o não permitido". Presumo que o autor parte do princípio, tal como eu, de que o Estado tem o monopólio da violência, em sede penal, e no respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos. Vamos então por partes. Se for negada aos cidadãos a possibilidade de abdicarem dos seus direitos, então deixaria de haver no Código Penal bens jurídicos disponíveis, incluindo a figura da exclusão da ilicitude no caso de ofensas corporais com consentimento expresso da vítima, fora das situações que envolvem tratamento médico. A conciência e o livre arbítrio preexistem em relação ao direito positivo. Os direitos de cidadania são essencialmente negativos: posso exigir, erga omnes, o seu reconhecimento e o seu respeito. Mas eles existem sobretudo para que possa exercer a minha liberdade e lutar pela minha dignidade. Por isso, não estarei nunca a abdicar deles se me submeter a uma autoridade que, não sendo legítima para uns, é legítima para mim. Se assim não fosse, ficaria arredado o direito, esse sim irrenunciável, à desobediência civil, à insurreição, ao não cumprimento de uma lei injusta, independentemente da sua origem. Por outro lado, a praxe académica é um costume. Concorde-se ou não com ela, associando-o estritamente ou não a uma prática violenta. Aferir ou não da sua legitimidade em função de juízos de valor não chega. Outra coisa é, como faço, afirmar que ela reproduz status sociais e dá livre curso a comportamentos psicóticos. Ou que se limita ao macaquear indigente de maus filmes de terror. Para tudo o resto, existem os tribunais. Rematando, o autor fornece o exemplo ad absurdum da escravatura voluntária como corolário dos seus argumentos. Devo dizer que, no caso, havendo uma manifestação de vontade dos intervenientes nesse sentido, livre de qualquer coação, consciente e expressa, na ausência de qualquer ilícito associado, nada há que o proíba. Poderemos naturalmente ter uma opinião sobre o assunto, mas não julgar quem o fizesse. Qualquer cidadão pode renunciar àquilo de que, no domínio da sua esfera jurídica, pode dispor. Até mesmo à sua liberdade. Da mesma forma que é o único decisor acerca do seu corpo, ou das substâncias que entender consumir. Por maioria de razão, decidir ser ou não praxado, quando isso é possível, advém de uma convicção imperscrutável e eminentemente pessoal.
Obrigado, meu caro, pelo "troco". Ficaram vivas, agora ainda mais, as nossas saudáveis divergências. Antes de "passar", apresentando os cumprimentos da praxe, não deixando de colocar no meu post o link para este seu exercício do contraditório, esperando que outras opiniões surjam e a todos nos enriqueçam, permita que lhe resuma a forma como, na minha experiência académica da ida década de 60 de século passado (!!!), em plena efervescência estudantil antifascista da época, resolvemos, contornámos, a questão da praxe aos caloiros. Além de iniciativas de integração (colóquios, visitas guiadas, convívios com comes e danças, jogos desportivos, etc) havia uma cerimónia teatral de ritual praxante mas invertido, isto é, os caloiros assistiam e pontuavam os talentos desfilados e quem se exibia no ridículo das "barracas" eram os veteranos, ora exibindo os seus dotes artísticos amadores ou representando farsas ensaiadas de caricatura quanto à vida escolar, onde não faltava a crítica política e o apontar os podres da instituição (os aspectos senis em algumas formas de ensinar, os profs que abusavam da autoridade despótica, as carências de equipamentos, a represssão aos estudantes, etc). E não era permitida a mínima acção (ou veleidade de tentativa) de qualquer praxe exercida pelos veteranos sobre os caloiros. Em pleno fascismo, praxar caloiros era-nos impensável (o abuso da autoridade pelo regime já chegava e sobrava). Foi um prazer conversar consigo.
ResponderEliminarAbraço do João Tunes
Caro João Tunes:
ResponderEliminarFoi um belo exercício trocar umas ideias consigo sobre este assunto.O debate acabou, afinal, por extravasar o tema inicial.Ainda bem, digo eu.
Se me permite, creio que a experiência estudantil que viveu nos anos sessenta foi determinante na forma contundente como encara a questão da praxe. Decerto a turbulência política nos meios estudantis dessa época levou a que a praxe fosse encarada como a bête-noire, uma forma de controle e de manipulação da condição estudantil pelo regime de então.
Passei pela Universidade de Lisboa nos anos 80, numa altura em que a praxe, onde existia, era uma prática incipiente e residual. Discutia-se muito se ela deveria ou não ser retomada. Hoje é o que se sabe. De qualquer forma, a questão de fundo permanece ao longo destes períodos: optar pela imaginação como forma de subversão,ou pela perigosa infantilização folclórica.
PS: Essas actividades que relata correspondem exactamente à ideia que tenho do que deveria ser o que se designa por praxe.
Cumprimentos
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ResponderEliminarDeixei uma resposta ao seu comentário sobre Kasparov.
ResponderEliminarVirei mais tarde ler os seus posts sobre esta temática das praxes que reputo da maior importância.
Cumpts
PS: Pf anule anterior comentário.
Gil:
ResponderEliminarFico pasmada por não haver comentários locais acerca deste assunto. Então na Guarda não há um Instituto Politécnico?
Claro que há. Mas os alunos devem andar com a ressaca das praxes. Além disso, estão mais preocupados com as noites da cerveja nos bares do que em discutir seja o que for. Para já não falar no espaço público. Que por cá, como sabes, é uma miragem. Em que meia dúzia de idiotas como eu teimam em acreditar.
ResponderEliminarGil,
ResponderEliminarObrigado sempre pela tua prosa viva e poderosa (até faz verso mas não era minha intenção). Aproveito para desejar que passes também para a Imprensa escrita. Já não se trata de perder um talento mas de impedir que os ecos sem fraga cubram completamente o céu.
Sobre a praxe. sabes bem a culpa que tenho nisso. A "praxis" da Tertúlia foi das melhores vivências que tive e em que todos partcipámos como se fosse um Sonho, de poetas, de almas nobres, de juventude eterna.
As referências do João Tunes são também verdadeiras mas a diferença entre vocês representa algo que se passou entretanto e que o discurso dele não permitiu ainda desencantar. Costume, lei ou prática, Liberdade ou Fidelidade sempre hão-de aparecer sem que a vivência dele ou nossa sejam as definitivas, pois haverá outras.
Penso que não convém é etiquetar ou rejeitar logo as coisas por uma impressão, sobretudo quando algo da "anti-praxe" deles ou da nossa praxe, muito nossa ( e partilhada por tanta gente de repente) vão buscar raízes muito antigas que se têm de respeitar. Embora ache que há algo de novo debaixo do Sol, o Sol continua a ser o mesmo.
Em suma, acho que João Tunes guardou uma vivência muito fechada dos seus tempos de juventude ( convém lembrar-lhe que os estudantes até Antero andavam de capa negra e a "sociedade do Raio" era uma sociedade praxista, bem como repressões não houve só as da sua reduzida élite de estudantes) e não é a única bonita para recordar.
Devo também dar os dois seguintes penicões:
1-A repressão do "Fascismo", mesmo do italiano era incomparavelmente menor do que aquela do Comunismo e é altura de, em nome da Humanidade, encarar esse facto
2 -- A nossa identidade não se faz com arrogâncias do tipo "no meu tempo é que havia Homens e Mulheres com "A" grande", mas com uma grande abertura à Verdade e uma grande humildade em relação a esta
3 -- Os estudantes de hoje que já nem fazem a praxe inventada como aquela em que degenerou o alcoolismo estudantil, têm também a sua riqueza cultural que há que descobrir e compreender, sob pena de caírmos na roda constante da nesciedade e do autismo (aliás quando estivermos com os pés para a cova, não nos restará senão isso pois se alguém julaga que um velho não tem de combater é porque ainda acredita no Pai Natal).
André
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ResponderEliminarDomingo, Outubro 14, 2007
ResponderEliminarÉ tempo de praxe
Todos os anos por esta época as universidades portuguesas enchem-se de estudantes que fazem coisas ridículas sob orientação dos seus colegas mais velhos. Esta semana cruzei-me em Aveiro com um longa bicha de caloiros que vinham da ria acartando nas mãos, debaixo do sol, sacos plásticos cheios de lodo. Presumo que a intenção fosse levar aquela porcaria para a Universidade. Em Coimbra, ao pé da escadaria monumental, passei por um estudante com o traje académico que era escoltado ao caminhar por quatro colegas recém-chegados à capital da cultura universitária que o rodeavam de braços estendidos no ar agarrando a capa dele sobre a sua insigne cabeça para que esta não apanhasse sol de mais. Suponho que teria medo que o pequeno cérebro derretesse.
Chamam a isto a praxe, e a justificação dada para que os colegas mais novos se tenham de lhe submeter é a necessidade de “integração”. Só há integração para quem não fizer ondas e aceitar com humildade os tratos de polé. Os caloiros são mandados fazer figura de urso para se poderem integrar, com a promessa de que um dia também poderão ser superiores prepotentes e terão enfim o direito de mandar uma nova geração de inferiores (caloiros/lamas/lodos) fazer por sua vez figuras tristes. É a apologia da humilhação como estratégia pedagógica.
Dizem os praxistas que é bom como aprendizagem para a vida, como preparação para o mundo. Aprende-se assim a respeitar a hierarquia, preparam-se os jovens para um modelo de relações profissionais baseado não no respeito mútuo, mas nas pequeninas e mesquinhas maneiras quotidianas de lembrar quem é o superior. Um modelo onde pouco conta o mérito, onde as ideias novas ou diferentes são malvistas, no qual importante é saber lamber as botas de algum cacique. Aprende-se a obedecer sem questionar. Para que se perpetue uma cultura que promove o medo de ser o destravado da língua que comete a heresia de dizer que o rei vai nu. E que é saneado pela ousadia. A praxe é um reflexo do triste país que temos, portugalzinho no seu pior.
Publicada por João Paulo Esperança em 11:52 PM 0
in Hanoin Oin-Oin
Em resposta a este último comentário e fazendo de advogado do diabo: não será a praxe isso mesmo, preparar os neófitos para aquilo que vão encontrar, ridicularizar esse embate, obrigá-los porventura a tomar posição?
ResponderEliminarPode-se encarar qualquer ritual como uma formalidade a quem é conferido um determinado peso simbólico. Neste caso, estamos perante uma brincadeira que às vezes pode ser de muito mau gosto. Mas tenho como certa a ideia que os verdadeiros praxantes não são os alunos mais velhos, mas sim quem decide por nós e nos "representa". E os verdadeiros praxados somos nós todos, enquanto acreditarmos nos primeiros.
ResponderEliminarConvido a ler e comentar o seguinte artigo (e outros relacionados) em:
ResponderEliminarhttp://notasemelodias.blogspot.com/2008/09/notas-sobre-praxes-e-praxe.html
Com os melhores cumprimentos.