Dawkins propõe-se demonstrar que Deus não existe. Com a mesma seriedade com que S. Tomás de Aquino quis fazer o contrário. Não é difícil, porque as suas famosas cinco provas da existência de Deus são singularmente vácuas. As três primeiras - o primeiro impulso, a causa indeterminada e o argumento cosmológico - baseiam-se em que não pode haver uma regressão infinita no sentido do movimento, das causas ou do tempo. E, por fim, tem que haver um Impulsor, uma Causa, ou um Criador originários. Mesmo que alguém aceite, a benefício de inventário, que a cadeia haja de partir-se nalgum ponto, não se poderá depreender que o Big Bang tenha que ser omnipotente, omnisciente e demais omnis. E menos ainda que tenha de escutar as nossas preces, ocupar-se dos pecados do mundo ou fazer de redentor. O argumento número 4, o dos graus de perfeição, nem sequer Dawkins, habitualmente parco em ironia, pode deixar de o expor ao ridículo. A nossa percepção de que neste mundo inferior há coisas mais perfeitas do que outras não necessita de um símbolo máximo de perfeição. A última tese de S. Tomás - tudo o que foi inteligentemente desenhado teve que ter por trás um desenhador inteligente - conduz a isso, ao desenho inteligente. Neste ponto, Dawkins observa que quanto maior o obstáculo a superar, maior será o mérito do criador; se supomos que o universo foi criado por um grande Ser, poderíamos imaginar outro ainda maior, que houvera criado tudo sem mesmo existir. Ergo... (ler mais)
Aconselho também a leitura do livro "O Fim da Fé" de Sam Harris, talvez mais radical do que este de Dawkins.
ResponderEliminarVictor Afonso