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segunda-feira, 11 de junho de 2007

A brisa em volta

Poucos momentos se conhecem da vida de Qu Yuán, o primeiro poeta chinês. Terá nascido no seio de uma família aristocrata, cerca do ano 340 a. C. Ocupado alto cargo como oficial no Reino de Chu. Sido expulso devido a calúnia. Escrito o Li Sao (Elegia da Separação). Escrito o Jiu Ge (Nove canções). Escrito uma parte da colecção de textos do Reino de Chu que dá pelo nome de Chu Ci (Versos de Chu). Aquando da notícia da queda do Reino de Chu às mãos do Reino de Qín, ter-se-á lançado ao rio Mì Luó, suicidando-se, de desgosto. Contava 63 anos e corria o ano de uma era anterior à de Cristo em 277 anos. Em resumo: nasceu, conheceu a glória, a desgraça, a escrita e a morte por asfixia. Ao todo, conto sete dias assinaláveis. Os dois dos extremos biológicos do mortal, os dois dos limites da sua vida pública, os três em que a sua mão se curvou para dar a ver através de tinta.
Desconhecemos por completo que tempo fez durante estes dias que se destacaram das seis dezenas de anos (mais mil dias) que durou a sua vida. (Choveu? Fez sol? Nevou? As nuvens iam altas?) E como seria diferente a sua biografia aos nossos olhos se nos tivesse chegado a singela frase: Quando Qu Yuán iniciava a redacção de Jiu Ge, um pouco acima, a brisa contornava as laranjas que ainda se conservavam suspensas no azul.

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