Sexta-feira à tarde. No escaparate de um quiosque, como sempre, as publicações devidamente expostas para que os transeuntes se fixassem nos títulos alinhados nas respectivas capas. Reparei então no seguinte pormenor: seis revistas chamadas "do coração" e da vida "social", a que se juntava a insuspeita "Visão", tinham em manchete os últimos desenvolvimentos "bombásticos" do caso da pequena Madeleine, desaparecida no Algarve. É evidente que a histeria se apoderou dos media nacionais. Mas também uma espécie de servilismo rasteiro perante o destaque inusitado que os tablóides britânicos estão a dar ao caso. O Sun até já oferece uma recompensa no valor de 15 000 Euros a quem dê informações sobre o paradeiro da criança. A ideia que fica é que há que contrariar, a todo o custo, a suspeição de que o nosso país é um santuário para tarados e pervertidos. Com uma veemência proporcional à tradicional soberba britânica para connosco. O clima espalhado já deu os seus frutos: desde uma impressionante mobilização de meios de busca, até declarações dos agentes políticos e diplomáticos. É bom recordar que, em Portugal, só no ano passado, desapareceram 31 crianças em condições semelhantes. Nenhuma delas foi capa de revista. E se calhar bem. Pois a única resposta possível perante o tipo de criminalidade associada, especialmente repugnante, é a eficácia da acção policial. A mobilização silenciosa de todos os meios disponíveis para o esclarecimento desses casos. À margem da pressão da opinião pública acicatada pelos media. Será pedir demais?
Ao que parece, já há jornais ingleses a oferecerem uma pipa de massa a jornalistas portugueses para "investigarem". E muitos não se fizeram rogados...
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