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domingo, 8 de abril de 2007

No centeio

Tradução: José Lima
Ed. Difel, 2005

O que tem de extraordinário este The Catcher in the Rye, obra máxima de J.D. Salinger, que atrai legiões de admiradores dos mais diferentes perfis e é objecto de culto nos mais diversos círculos? Jerome David Salinger , o autor, é uma figura estranha. Nascido em 1919, desde sempre foi avesso à imprensa ou outras formas de divulgação da sua figura, tornando-se paranoicamente recluso. Ainda na época do lançamento do livro, na década de quarenta, fez o seu editor prometer que não lhe enviaria quaisquer críticas que fossem publicadas sobre o livro. À Espera do Centeio relata, numa narrativa na primeira pessoa, alguns dias na vida do adolescente Holden Caulfield O qual acaba de ser expulso da sua terceira escola nas vésperas de Natal, nos EUA do pós-guerra. Numa linguagem simultaneamente criativa e coloquial (o que dificulta a vida dos tradutores), Caulfield vai revelando, aos poucos, algo sobre o seu passado, família e conhecidos, ao mesmo tempo que vagueia por Nova Yorque. E, para alguém entediado e deprimido como ele, nada melhor que ua contrariedade para manter o ritmo narrativo.O texto segue a linha joyceana do fluxo de consciência, com as frases jorrando aos borbotões, como se saíssem directamente da cabeça do narrador, saltando de um assunto para outro sem grande cerimónia, parecendo obra do acaso. Em The Catcher in the Rye o fluxo de consciência funciona particularmente bem, pois permite expressar a instabilidade emocional do protagonista, não somente no conteúdo da narrativa, mas também na forma. Holden Caulfield é ao mesmo tempo o herói e o vilão da história. Vítima de si próprio e da sua sensibilidade, divertidamente mentiroso, assumidamente covarde, parece buscar uma espécie de redenção ajudando desconhecidos e enaltecendo sua irmãzinha de dez anos. Mas o que realmente o incomoda é o vazio e a falsidade das pessoas, que por mais promissoras que pareçam, acabarão sempre por se revelar como mais uma decepção. Isto não faz da obra exactamente uma leitura animadora mas, ainda assim, existe algum resquício de inocência e ingenuidade infantil em Holden Caulfield.

2 comentários:

  1. acabei de ler este livro há pouco tempo e ando a preparar um texto sobre ele para publicar no mei-noite.

    é um grande livro!

    abraço

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  2. Quando publicares esse texto darei aqui notícia.

    Abraço

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