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terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

A Inquisição vem a seguir

«A desumana insensibilidade com que os adversários da despenalização convertem o direito à maternidade e à paternidade numa obrigação absoluta - incluindo em caso de gravidez indesejada ou, mesmo, insustentável, em termos afectivos, psicológicos, familiares, económicos, sociais, etc. - revela uma dose de intolerância e de incompreensão que só o dogmatismo e o fundamentalismo religioso ou moral podem justificar.»

Vital Moreira, Público, 06.02.2007


20 comentários:

  1. A Inquisção não vem a seguir, porque, entretanto foi substituída pela Tchecka e pela Gestapo; Talvez o Sr. Vital saiba o que foi a primeira, ou quer-se esquecer?

    Tive uma amiga que viu mulheres chinesas grávidas conduzidas de espingarda para abortarem. Mas o Sr. Vital, cuja moral é tanta como a de quem, sem dar um tiro em Abril, permitiu uma milhão de mortos em Angola e outro tanto em Timor-Leste, quer manter a sua liberdade de se transformar no que quiser, desde que viva bem e apareça nos jornais.

    Tenham vergonha. Ao menos o que vai à sacristia, pode não ter moral. Mas tem vergonha.

    André

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  2. André:

    Remeto para o meu comentário ao post anterior. Que inclui essa estranha superioridade moral de quem quer impor as suas convicções e padrões morais aos outros e, nomeadamente, impor uma maternidade indesejada.

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  3. Aqui estou de novo, Gil.

    Acaso a maternidade e a paternidade são um direito? E respirar, é um direito?

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  4. Ou, posto de outra forma, não vás tu pensar que eu nada sei de Direito: o que revela "desumana insensibilidade" não será antes reduzir a maternidade e a paternidade a um mero direito subjectivo, que se exerce ou não? Será talvez um direito sujeito a condição resolutiva? Custa-me ver o Gil que eu conheci afinar o diapasão por este primaríssimo positivismo jurídico. Mas, enfim, terei de me habituar à ideia...

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  5. Pedro:

    O drama dos católicos, ou aí inspirados, é que continuam a encarar dois artigos do Código Penal como um prémio de consolação para a inexistência de um 11º mandamento - não abortarás.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Gil,

    Bem sei que não posso discutir este assunto contigo numa perspectiva religiosa, porque um de nós é crente e o outro não. Seria uma conversa de surdos. Naturalmente, respeito a tua opção.
    Sucede que há um outro campo em que, à partida, tenderemos a aceitar as respectivas premissas: o da abordagem ético-jurídica. E aí, a questão, creio eu, não resiste a qualquer ponderação de valores. Não há fundamento ético-jurídico para o aborto livre. Mais do que isto é apenas força e vontade, mas não é pensamento.
    Má sorte a dos embriões não serem sobreiros, ou linces da malcata...
    Vem aí uma Inquisição, de facto, como dizes, mas seguirá outra estrela, de sinal contrário.

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  8. Pedro:

    Acho que mesmo aí,haveria pouco a dizer. Tu, pelos vistos, preferes que tudo fique como está. Eu quero que no meu país, as mulheres possam decidir em algo que ninguém pode decidir por elas. E se optarem pelo aborto, que o façam sem risco e sem medo. Se calhar, a esmagadora maioria dos países da europa onde isto já acontece é habitada por bárbaros insensíveis aos direitos do feto. A minha grande diversão no momento é ver os pró-não transformados em pró-nim.

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  9. Tó-Quim:

    Só pelo teu discurso se vê quem poderão ser os novos "bárbaros insensíveis aos direitos do feto". Tu, com toda a certeza, serás um deles.
    Vê lá, não "abortes" este comentário como fizeste a um outro anterior que, aposto, não te convinha.

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  10. Olha, Paulo, em relação a essa referência de ter apagado um comentário, estás redondamente enganado. Eu só apago comentários insultuosos, não discordantes. E nunca aqueles que não me convêm , mas aqueles que não convêm a quem não se pode defender.

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  11. Ó Gil, mas tu não tinhas já encerrado a discussão sobre este assunto? Não adianta, já devias ter percebido...Eles nunca hão-de perceber que a tua verdade não se sobrepõe à deles, mas eles querem fazer vingar a sua sobre todas as outras...
    Devias sim era contar aquela história da clínica do Dantas, no Porto, que eu te contei.

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  12. Gil,

    O facto de utilizares repetidamente o verbo "querer" é bem significativo. Pura vontade. Só assim, de resto, se explica o salto lógico, muito conveniente, que deste. O aborto clandestino é problema. O aborto não é. Para ti, sem o adjectivo, o substantivo não tem qualquer existência. Ora, sabemos ambos que é justamente o contrário. Lembro-me de que, há umas semanas atrás, disseste, neste blogue, que, nesta matéria, ou se era platónico ou se era aristotélico. Eu, que sou aristotélico, não te vou aqui lembrar o que significa a causa final. Mas estou em crer que o feto é bem capaz de ter a sua.
    Apenas te pediria, a propósito da distinção entre aborto e aborto clandestino, que recordasses a distinção entre substância e acidente.
    Só há adjectivo por haver substantivo. Mas tu ignoras o substantivo, Gil. E isso é um sofisma.
    Quanto à conversa da Europa, do "lá fora", etc., confesso-te que não me impressiona mesmo nada. O Pascoaes dir-te-ia que isso é espírito simiesco. O Pessoa chamar-lhe-ia, talvez, provincianismo.
    Podemos sempre perguntar quem está realmente adiantado ou atrasado. Portugal aboliu, de modo pioneiro, a pena de morte cerca de 120 anos antes da França. De resto, o aborto é livre nos EUA. E a pena de morte existe em 38 dos seus 50 estados.

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  13. OK, Pedro, vamos então ficar orgulhosamente sós, pobretes mas alegretes, com o marido bêbado a chegar a casa, fazer à mulher mais um filho a juntar a outros 7, ou uma adolescente que teve um "acidente" e que foi banida pela própria família, mas é claro que chegam lá vocês com a vossa retórica, o vosso proselitismo e os vossos autores consagrados, mas que não querem dizer outra coisa senão: "aguenta! o útero não é teu mas de Deus". Também enaltecendo a abolição simbólica da pena de morte, enquanto mantivemos a escravatura nas colónias até quase ao fim. Mas não deixando de acusar quem refere o que se passa nos países onde o problema do aborto foi devidamente encarado como "provinciano". Portanto, sobre isto, nada mais direi nesta caixa, Pedro. Como disse alguém aqui, não adianta.

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  14. A conversa estava a ser agradável, mas tu queres terminá-la abruptamente. Torna-se um hábito quando os amigos te visitam. Seja. Em todo o caso, concede-me um último cigarro, algumas notas de despedida:

    1 - Citei Pascoaes, um dos "nossos" "autores consagrados", porque pensei que te dissesse alguma coisa. Puro engano. Lembrei-me de que, há uns meses, tinhas citado, neste blogue, de modo inexacto, aliás, os famosos versos da "Elegia do Amor", a propósito do Outono. Mas a morte no Outono é diferente, é mui poética, não é a doer, e aí é sempre bom ter um vate romântico, um "autor consagrado", à mão. Digamos que foi uma pequena concessão da tua parte à metafísica. Fora isso, só neo-realismo, neo-realismo sempre, muito oportuno no caso.
    2 - Dou-me conta de que, desta vez, foste apenas tu a trazer Deus à conversa. Duas vezes. Está a tornar-se uma obsessão, não está, Gil?
    3 - Acusas-me de retórica. É justo. Acrescenta-lhe, porém, a lógica e a dialética. Também é justo; e, ao menos, ficam completos os estudos trivais.

    Até sempre.

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  15. Errata: onde se lê "dialética", leia-se "dialéctica".

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  16. Detesto ver amigos a separarem-se. Mas sei que é por pouco tempo. E sei que a amizade tem sinais e linguagens que vão para além do que se diz, na altura que se diz.

    Gil, claro que tu sabes que não somos insensíveis, nem eu nem o Pedro a essas coisas que tu invocaste. Sabes bem que não, que lutámos por elas, tomámos opções e tivemos muitos amargores. Aqui divergimos e não é apenas uma questão de pormenor. Vemos as coisas de modo diferente mas vêmo-las efectivamente assim embora o sentido da visão seja sempre traiçoeiro.

    Uma coisa te digo, Gil, quem tem um Blogue interessante como o teu, sujeita-se a comentários e outros, além de ti, pensam e escrevem também, e às vezes também com talento.

    Uma coisa permanece comum a nós os três Gil. Nós não somos Mulheres, não engravidamos. Certamente que temos uma palavra a dizer, porque fomos "engravidados", somos filhos e netos.

    Há aqui algo que a tua lógica não resolve: temos e não temos uma palavra a dizer. A solução será contar no dia 11 de Fevereiro?

    Desejo que nunca tenhas de confrontar-te com uma decisão de alguém abortar. Eu confrontei-me três vezes na minha vida. Nem duvides de que resposta lhe dei...

    André

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  17. Paulo:

    Ainda a propósito do tal comentário que dizes que apaguei, devias primeiro ler o que lá está: removida PELO AUTOR. Não é suficientemente claro?

    Até quarta

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  18. Este comentário foi removido pelo autor.

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  19. Gil:

    Pelo que aqui li, acho que nesta caixa de comentários estás a pôr à prova aquela máxima budista que às vezes referias: "nada melhor para dominar o touro do que conceder-lhe uma vasta pradaria". Boas continuações.

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  20. Xana:

    Como é que adivinhaste? Foste à bruxa ou quê?

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