A edição de Fevereiro da revista Atlântico continua a mostrar porque é que esta publicação de actualidade política continua a fazer a diferença no panorama nacional. Do excelente naipe de articulistas e trabalhos publicados é difícil eleger aqui os mais curiais. Apesar da "injustiça" da escolha, destaco aqui quatro textos:
1. "O que esperar da UE em 2007?", de Bernardo Pires de Lima: uma análise descomplexada das questões colocadas a propósito da actual presidência alemã, da eminente presidência portuguesa, da afirmação da Alemanha como interlocutor privilegiado de Washington, substituindo Londres, da recente adesão da Bulgária e Roménia e do complexo dossier turco;
2. "Descriminalizar, Despenalizar, Nacionalizar", de Manuel de Lucena: uma perspectiva heterodoxa sobre a grande questão nacional do momento, onde se colocam algumas interrogações aos dois lados da contenda sobre a salvaguarda da contenção do Estado, quer em punir quer em promover o aborto. É claro que, mesmo tendo uma posição inequívoca em favor do sim, não me impede de ler com agrado uma reflexão bem estruturada sobre o problema.
3. "Sucesso e fracasso no Iraque", de Rui Ramos: a destruição da ideia de que foram os neo-conservadores quem mais incentivou o presidente Bush à intervenção militar no Iraque, pois Dick Cheney e Rumsfeld nunca o foram.
4. "Três ruas para viver", de Paulo Tunhas: uma excelente crónica cujo tema de fundo é a onda de "compaixão" que suscitou a recente execução de Saddam. PT parte de uma sequência de "O Idiota", de Dostoievski, em que o Príncipe Mychkine relata a execução de um condenado, por ele presenciada. O herói, num exercício analógico, imagina o que aquele teria sentido nos seus último momentos de vida. PT conclui, e bem, que o episódio diz respeito à forma mais simples de simpatia: colocarmo-nos no lugar do outro. Uma espécie de "dever de sensibilidade"que identifico com a compaixão budista. Mas o autor sinaliza uma outra forma de simpatia: "desejar que o outro não estivesse lá", apelar a uma misericórdia que reponha o que se sente como uma injustiça. PT conclui que tendemos a confundir os dois planos, isto é, a "exprimir a primeira ao modo da segunda", pois a sensibilidade só adquire credibilidade com a ajuda da "emoção". E quando um acontecimento tão impressivo como este corre mundo, ninguém quer ficar de fora de uma onda emocional que reforça o que se julga ser a "humanidade" que nos habita. Um processo que PT identifica como o "reflexo automático do gregarismo opinativo". Uma "surpresa" que um sentimentalismo postiço obriga a dizer: "sim, eu também".
1. "O que esperar da UE em 2007?", de Bernardo Pires de Lima: uma análise descomplexada das questões colocadas a propósito da actual presidência alemã, da eminente presidência portuguesa, da afirmação da Alemanha como interlocutor privilegiado de Washington, substituindo Londres, da recente adesão da Bulgária e Roménia e do complexo dossier turco;
2. "Descriminalizar, Despenalizar, Nacionalizar", de Manuel de Lucena: uma perspectiva heterodoxa sobre a grande questão nacional do momento, onde se colocam algumas interrogações aos dois lados da contenda sobre a salvaguarda da contenção do Estado, quer em punir quer em promover o aborto. É claro que, mesmo tendo uma posição inequívoca em favor do sim, não me impede de ler com agrado uma reflexão bem estruturada sobre o problema.
3. "Sucesso e fracasso no Iraque", de Rui Ramos: a destruição da ideia de que foram os neo-conservadores quem mais incentivou o presidente Bush à intervenção militar no Iraque, pois Dick Cheney e Rumsfeld nunca o foram.
4. "Três ruas para viver", de Paulo Tunhas: uma excelente crónica cujo tema de fundo é a onda de "compaixão" que suscitou a recente execução de Saddam. PT parte de uma sequência de "O Idiota", de Dostoievski, em que o Príncipe Mychkine relata a execução de um condenado, por ele presenciada. O herói, num exercício analógico, imagina o que aquele teria sentido nos seus último momentos de vida. PT conclui, e bem, que o episódio diz respeito à forma mais simples de simpatia: colocarmo-nos no lugar do outro. Uma espécie de "dever de sensibilidade"que identifico com a compaixão budista. Mas o autor sinaliza uma outra forma de simpatia: "desejar que o outro não estivesse lá", apelar a uma misericórdia que reponha o que se sente como uma injustiça. PT conclui que tendemos a confundir os dois planos, isto é, a "exprimir a primeira ao modo da segunda", pois a sensibilidade só adquire credibilidade com a ajuda da "emoção". E quando um acontecimento tão impressivo como este corre mundo, ninguém quer ficar de fora de uma onda emocional que reforça o que se julga ser a "humanidade" que nos habita. Um processo que PT identifica como o "reflexo automático do gregarismo opinativo". Uma "surpresa" que um sentimentalismo postiço obriga a dizer: "sim, eu também".
Bem visto! Só li um número e acho a revista muito boa...
ResponderEliminarEsta lá também um artigo muito sobre o Hayek, o "pai" da escola austríaca.
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