Como já aqui se tinha previsto, o desespero dos defensores do "Não" em trazer novos soundbytes para a discussão pública vai-se tornando mais notório. Agora, não hesitam em recorrer à chantagem, à contabilidade de merceeiro, ao populismo mais rasteiro. Só falta aparecerem os milenaristas para ajudar à festa. A última novidade é o anúncio de um catastrófico aumento dos impostos, se ganhar o "sim". Sobre o tema, leia-se esta excelente desmontagem em "O Cachimbo de Magritte".
Noutro plano, ainda deste mundo, mas já com letra sacada sobre o outro, apareceu ontem o Bispo de Vijeu em homilia televijiva. Soube-se que o prelado descortinou três perguntas numa só: aquela que vai ser submetida à apreciação dos portugueses. Dessas três, jurou a pés juntos que votaria a favor na 1ª - a despenalização da mulher - e contra nas outras duas. Ao princípio, pensei que estaria com problemas de audição: um representante da Igreja Católica vir dizer que despenaliza a mulher é o grande acontecimento desta instituição desde o Concílio de Niceia! Mas o entusiasmo logo arrefeceu, às mãos da real politik. Afinal, este clérigo, em três minutos, conseguiu uma proeza hercúlea: condensar a habilidade, a teologia e a retórica. Senão vejamos: primeiro divide o que é uno (que outra coisa não fez o cristianismo?); acto contínuo, santifica uma parte e demoniza a outra; no final, para compor a contabilidade, concede a parte mais pequena e guarda a maior, numa genial operação aritmética. Desse modo, aquilo que já se defendia e se quer continuar a defender continua intocado, mas dando a ilusão que se "cedeu" em qualquer coisa. Ou seja, é preciso que alguma coisa pareça que mude para que tudo fique na mesma. Brilhante! À atenção de homens de negócios, correctores da Bolsa, políticos em tirocínio e advogados rebarbativos. Entretanto, sua Excelência "despenalizou" as mulheres. O que indicia duas coisas: 1º que as mulheres que sofrem lesões graves por via do aborto clandestino vão começar a aparecer miraculosamente curadas; 2º que o direito penal ainda não é disciplina leccionada nos seminários.
Noutro plano, ainda deste mundo, mas já com letra sacada sobre o outro, apareceu ontem o Bispo de Vijeu em homilia televijiva. Soube-se que o prelado descortinou três perguntas numa só: aquela que vai ser submetida à apreciação dos portugueses. Dessas três, jurou a pés juntos que votaria a favor na 1ª - a despenalização da mulher - e contra nas outras duas. Ao princípio, pensei que estaria com problemas de audição: um representante da Igreja Católica vir dizer que despenaliza a mulher é o grande acontecimento desta instituição desde o Concílio de Niceia! Mas o entusiasmo logo arrefeceu, às mãos da real politik. Afinal, este clérigo, em três minutos, conseguiu uma proeza hercúlea: condensar a habilidade, a teologia e a retórica. Senão vejamos: primeiro divide o que é uno (que outra coisa não fez o cristianismo?); acto contínuo, santifica uma parte e demoniza a outra; no final, para compor a contabilidade, concede a parte mais pequena e guarda a maior, numa genial operação aritmética. Desse modo, aquilo que já se defendia e se quer continuar a defender continua intocado, mas dando a ilusão que se "cedeu" em qualquer coisa. Ou seja, é preciso que alguma coisa pareça que mude para que tudo fique na mesma. Brilhante! À atenção de homens de negócios, correctores da Bolsa, políticos em tirocínio e advogados rebarbativos. Entretanto, sua Excelência "despenalizou" as mulheres. O que indicia duas coisas: 1º que as mulheres que sofrem lesões graves por via do aborto clandestino vão começar a aparecer miraculosamente curadas; 2º que o direito penal ainda não é disciplina leccionada nos seminários.
Publicado no jornal "O Interior"
Excelente desmontagem
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