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quarta-feira, 8 de novembro de 2006

O teste 2

Esta postagem sobre opinião, onde referi as cautelas a ter no tratamento que lhe seja dado numa sondagem, mereceu um comentário interessante. Nele, às categorias referidas, verdadeiros sucedâneos "pobres" da opinião, foram adicionadas mais duas: a suposição e a premonição. Sobre a segunda não me deterei aqui, visto que assinala outro tipo de realidade. Como bem ilustra o comentador, a suposição nasce, na maioria dos casos, da seguinte forma: eu não vi/fui/li, etc., mas"...seguindo-se duas horas de alegações .
Ora, a grande subtileza está no "MAS". Essa partícula adversativa, no contexto, normalmente assinala o livre curso do BITAITE, contra tudo e contra todos. Evocado, de forma exemplar, naquele gag do Gato Fedorento em que, num telejornal, o pivot tenta contactar um suposto repórter na Guerra do Iraque. Mas de lá responde uma dona de casa da Venda Nova, que nunca pôs os pés fora do país e que, aproveitando para informar que naquela zona não há água, acaba por insistir com o pivot, para além de qualquer razoabilidade, que a deixasse ir tomar "um banhinho lá a casa". Acabando por o insultar e pondo em risco a emissão. Mas não deixa de mandar uns "comentários" sobre a Guerra, acabando por reconhecer que ainda lá iria um dia "passear" e apanhar sol. Pondo de parte este aspecto mais caricatural, o "mas" é o sinal de um ego imoderado e assertivo, em discurso directo. E repare-se que esta prática não é atributo exclusivo de nenhum sector social, académico, ou geográfico. Já li uma crónica de E. P. Coelho em que este faz uma apreciação de um livro de João Pedro George, dando a entender na introdução que não o tinha lido, "mas"... Acabando por tecer considerações sobre a personalidade do próprio autor.
Excluo desta análise o discurso determinado pela subjectividade, ou pela criatividade - literário ou não - uma vez que se assuma enquanto tal. O que está aqui em causa é todo e qualquer enunciado não sustentado por um referente e que, embora o reconhecendo, relativiza essa precaridade.
Todavia, e num registo meta-histórico, o uso e abuso deste tique pode ser também encarado positivamente, como um traço específico, embora não particular, do nosso devir enquanto nação: uma inquietação resolvida em esperança benigna. Senão veja-se: "estamos confinados a esta finisterra, sem grandes possibilidades de crescimento, mas"... e andámos por aí a explorar meio mundo; "de há quatrocentos anos para cá somos um país deficitário, falido, ingovernável, mas..." vá lá, as coisas estão "melhorzinhas"...
Não faltariam outros exemplos, mas...

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