Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

The day after

Ontem foi a estreia do espectáculo Guarda, Paixão e Utopia, uma co-produção TMG/ACERT, integrada nas comemorações do 807º aniversário da cidade e já aqui anunciada. A peça foi muito bem recebida pelo público, como espero o venha a ser também hoje. Como tive oportunidade de escrever na folha de sala do espectáculo, a propósito da concepção do guião, a opção seguida foi a criação de uma ideia “da” Guarda “para” a Guarda: uma narrativa não documental, diacrónica, baseada no “real”, mas colocando-o ao serviço das finalidades próprias de um espectáculo teatral, com forte componente musical e coreográfica. Arquitectada segundo uma tensão dialéctica entre um discurso optimista e outro pessimista – o Anjo da Guarda e o Velho - resolvida num clímax final absolutamente surpreendente. Concluída a apresentação, algumas reflexões:
  • desde logo, o próprio processo de produção. Esta é uma obra colectiva por excelência, com cerca de 250 pessoas envolvidas, a grande maioria pertencente a colectividades locais. Mas nem por isso as dificuldades inerentes à reunião, num projecto artístico, de tanta gente, se pareceram sentir. É simplesmente espantoso observar o resultado produzido com os mais diversos contributos artísticos, técnicos e logísticos, como se de uma só voz se tratasse. Grande parte do mérito, há que reconhecê-lo, vai para a direcção artística do projecto. Mas nada disto seria possível sem um prévio e demorado trabalho de apoio e consolidação das colectividades envolvidas.
  • esta peça pode muito bem marcar uma nova etapa na consciência cívica da Guarda. Não é impunemente que se congregam vários grupos de teatro, ranchos, filarmónicas, coros, fanfarras, actores, etc., ao serviço de uma proposta teatral única, talvez a nível nacional. Como se a generosidade e o talento de tanta gente tivessem brilhado com uma magnitude imprevista. Mas sinaliza sobretudo a afirmação da cultura como agente primeiro de qualificação e desenvolvimento. Aqui como em qualquer outro local. Talvez aqueles que negavam esta evidência reconsiderem as suas posições. Há batalhas que se vencem aos pontos. Até todos perceberem que ninguém perde.
  • o meu contributo, para além da co-autoria do guião, passou também pela representação: o poeta que inaugura a luz. Foi, sem dúvida, das experiências mais gratificantes em que tomei parte neste cidade.

5 comentários:

  1. Foi realmente um grande espectáculo. espero que para o ano haja mais...

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  2. No 2º dia esteve lá o bispo. E ainda teve que ouvir dizer o encenador, no final, que uma cidade que se orgulha da sua prostituta mais famosa está no bom caminho. Foi lindo de se ouvir e de ver a reacção do prelado...lolol

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  3. e como o bispo corou.ker dizer, eu até compreendo o senhor. então, chega atrasado, entra atrasado enquanto outras pessoas ficaram na rua, e no fim ouve uma coisa destas...é demais para um só homem. Ainda que seja bispo...
    Parabéns a todos os participantes.

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  4. É curioso que até "O Interior", conhecido pela criação de uma autêntica barreira de contra-informação ao TMG, apreciou o espectáculo de forma entusiástica...

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  5. Alguns espectadores apontaram o facto de a comunidade judaica da Guarda não ter sido contemplada na peça. Sem dúvida que essa realidade mereceria um quadro alusivo, dada a sua particular relevância na história da cidade. No entanto,creio que o destaque dado ao ex libris dos judeus na Guarda - a Ribeirinha - atenuará em muito essa "falha".

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